sábado, 25 de maio de 2019

INFANTÁRIO, MÉDICOS E CRÍTICAS

Não escrevo no blogue há umas boas semanas e hoje resolvo trazer um tema extenso e complexo!

Bom dia minha gente!

Comecemos pelo início.

O Gonçalo fez dois anos em abril. Como é comum, teve a consulta dos dois anos na pediatra e também na médica de família.
Até aqui todas as consultas têm corrido bem, ele é sempre cooperante. Desde cedo percebi que preferia a pediatra à médica de família. No entanto, nesta consulta, assim que entrou no consultório da pediatra o rapaz desatou a chorar... e chorou, chorou, chorou. Só acalmou quando percebeu que íamos sair, aí conversou, deu 5 à médica, riu... enfim.

Fiquei com a nítida sensação que a médica achou-o anti-social. Frisou algumas vezes as vantagens do infantário, perguntou se vamos ao parque com ele e se convive com crianças. "Aproveitem o bom tempo para passear com ele, hoje em dia as crianças estão muito em casa..."

Não é de todo o caso do Gonçalo. Apesar de não estar no infantário, ele convive com crianças. Vamos muito ao parque, vivemos ao lado de um, com uma escola e um atl. Nesses dias ele brinca com muitas crianças, todas em idade escolar, mas que o estimulam muito. Também vamos a outros parques ao fim de semana. Nesses brinca com crianças da sua idade, conheça-os ou não. Mete conversa, ri, interage bastante, o que me faz pensar que está no bom caminho e que não tem problemas de socialização.

Quanto ao estar muito tempo em casa, só se o tempo não permitir brincadeiras na rua. E disse isso à pediatra. Tem muito espaço para correr, sabe ir apanhar morangos e hortelã à horta, vai tirar os ovos das galinhas, vai alimentar os coelhinhos... corre tanto durante o dia, que ao fim do dia, bem... tem meeeesmo de tomar banho, se é que me entendem!

A brincar no jardim da avó!

A apanhar favas na horta dos avós!

A brincar com slime, com a prima!

Depois vem a questão da fala. O Gonçalo diz palavras soltas, quando entende que deve dizer. Não faz frases e as suas conversas são autênticas espanholadas, já que ninguém percebe nada... ou talvez não, porque quem convive diariamente com ele percebe mais ou menos, nem que seja o tema da conversa.

Nesta semana, foi a vez de ir à consulta da médica de família. Digo-vos muito sinceramente, cada vez gosto menos de ir ao centro de saúde. Fiquei farta das secas durante a gravidez, já apanhei bastantes com ele e, pior, há sempre espaço para críticas.

Fomos atendidos por uma enfermeira jovem, que por acaso conhecia de vista dos tempos de escola (mas ela é mais nova que eu). Na avaliação ao Gonçalo estava tudo bem, à exceção da fala.

As questões foram mais ou menos estas:
- Sobe e desce escadas sozinho?
- Sabe rabiscar?
- Já tenta levar a colher à boca?
- Usa fralda?
- Pede para fazer xixi?
- Gosta de lavar os dentes?
- Sabe dizer o primeiro nome?
- Constrói frases?

As minhas respostas foram:
- Sim.
- Sim. (Ao que ela respondeu, "ah, mas vamos ver" - e deu-lhe um lápis e um papel que ficou rabiscado em 3 tempos...)
- Já come sozinhoantes dos 18 meses.
- Sim. (e ela pergunta espantada "ainda usa fralda?! ")
- Não.
- Gosta.
- Diz Gongon. Mas só quando quer.
- Não.

Antes de tudo isto houve a derradeira questão : ele está no infantário?

Depois do "diagnóstico" veio outra questão: "Já pensou em pô-lo no infantário?" Ao que respondi que sim, aliás, antes de fazer 1 ano pré-inscrevi-o num infantário, mas mudei de ideias e além disso não teve vaga.

Posto isto veio a lavagem cerebral. Foram descritas todas as vantagens de um infantário, não fosse eu uma pessoa fora do contexto social que não percebesse as vantagens de um infantário... Ouvi tudo, sorri, mas não respondi. Por fim diz-me: "Isto é apenas a minha opinião, claro que a decisão é vossa. " - a sério?!
Depois ainda me perguntou quando estava a pensar pô-lo no infantário. Eu disse que era aos 3 anos e a enfermeira voltou a insistir para pô-lo em Setembro...
Como viu que a minha postura não mostrava grande interesse disse que assim ele ficava atrasado na fala e teria de fazer terapia da fala. Oh Meu Deus! Conheço pelo menos 3 miúdos que foram para o infantário com cerca de 6 meses e andam na terapia da fala, cada um pelas suas razões. Portanto o infantário não é solução para todos os males da sociedade. E as crianças que fazem terapia da fala não são, com certeza, todas as crianças que foram aos 3 anos para o infantário ou que começaram a falar tarde, digo eu.

A minha sobrinha, por exemplo, foi para o infantário quase aos 4 anos e com a idade do Gonçalo dizia tudo. Ou seja, nem sempre o facto de não estar no infantário significa atrasos na fala.

Depois veio a consulta com a médica de família. Também disse que o infantário era bom para desenvolver a fala, mas não insistiu. Aqui o problema foi a roupa. O consultório está sempre, sempre um forno. Nota-de uma diferença enorme da temperatura do consultório para a sala de espera, portanto a dra acha que está aquela temperatura em todo o lado. Faz sempre a mesma observação: " Ele está muito vestido!"  Eu até revirei os olhos! (Na primeira consulta dele, com apenas uns dias, a conversa foi logo esta. Até a enfermeira me disse para ignorar). A minha paciência já estava no limite, e respondi. Respondi torto e disse que o vestia conforme a temperatura da rua, e por acaso estava frio nesse dia, e não a do consultório que está sempre abafado. A dra disse que devia vestir um casaco para poder tirar, e eu disse que a blusa também podia tirar. Por fim a sra dra diz: No inverno deves vestir-lhe um edredão... E eu disse: "Se for preciso!" Sinceramente, acham que isto é conversa de um médico? Tudo bem que ela é minha médica desde os 7 ou 8 anos, mas não sou propriamente criança. Este tom acusatório, crítico, tira-me do sério.
A conversa da roupa ficou por aqui, mas é uma constante. Para além de não concordar, o que realmente me chateia é a necessidade de criticar. Há sempre alguma crítica. Por estas razões é que muitas mulheres andam sempre ansiosas a achar que são más mães.

Bem, mas agora vocês também podem estar a perguntar-se porque é que o Gonçalo não está no infantário. E vou explicar-vos, não que esteja à espera de aprovação, mas porque acho sempre benéfico partilharmos, e pode alguma de vós estar também com estas questões existenciais.

Sou plenamente de acordo que uma criança no infantário adquire competências que uma criança que está com os avós não adquire. Conheço crianças com a idade do Gonçalo que falam e até já sabem alguns números em inglês. Ele não sabe, mas conta até 2 em português 😊. Mas também sou da opinião que uma criança que está com os avós, tanto maternos como paternos, que tem imenso espaço para correr e brincar, que faz as mais variadas coisas que uma criança num infantário não faz, também adquire competências que uma criança num infantário não adquire.

Eu cresci com os meus avós, tanto a estar no dia-a-dia com eles, como a passar férias nas suas casas. Tenho muitas recordações dos meus avós e é algo muito importante para mim. Agrada-me muito dar a oportunidade ao Gonçalo, e aos avós, de criar estes laços com pessoas tão importantes. A ligação à família é muito importante para mim. Se estivesse no infantário não era a mesma coisa.

A questão de eu ter manhãs livres, também pesou nesta decisão. Quando pensei em inscreve-lo, uma das coisas que me angústiava era pensar em leva-lo de manhã, quando podíamos estar juntos. Também podia leva-lo mais tarde, mas para isso não estava a pagar as pequenas fortunas que se pagam. Depois pensava que também podia aceitar mais trabalho, mas comecei a prever os nossos dias. Correrias de manhã para leva-lo à escolinha e para ir trabalhar, ir busca-lo só ao final do dia, dar banho, fazer jantar e ao fim de um bocadinho leva-lo para a cama. A conta bancária poderia estar mais cheia, mas o coração não.

Almoçamos praticamente todos os dias juntos, os três, e gosto de aproveitar o tempo que temos para estar juntos. Sei que se ele estivesse no infantário eu também teria mais tempo para outras coisas, para organizar melhor a casa, para fazer exercício, etc. Mas parece-me que se olhar para trás daqui a uns anos, vou preferir lembrar-me dos momentos que passei com o meu filho, do que no facto de ter conseguido ter a casa bem arrumada e organizada.

Portanto, pondo tudo na balança, achei que esta seria a melhor solução para já. Ele irá falar no seu tempo, irá aprender inglês no seu tempo, e até lá temos muito tempo para a brincadeira livre, para os mimos dos avós, e por aí fora.

Ontem um explicando meu, de 7 anos, perguntou-me se o Gonçalo está na escolinha. Quando lhe disse que não ele respondeu: "Ah, então o Gonçalo é um sortudo. Ainda não tem de se preocupar com horários, nem nada..." - Acho que esta observação diz muito!
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