Depois de termos o diagnóstico do Gonçalo em Novembro, iniciamos o tratamento e começou uma nova fase.
É impossível não fazermos a marcação entre o antes e o depois do diagnóstico.
O diagnóstico trouxe certezas e também muitas dúvidas e preocupações para nós pais, a certeza de que existe algo fez realmente muita diferença na nossa percepção dos problemas.
Nestes dois meses tenho lutado pela terapia da fala feita na escola, tal como o acompanhamento psicológico e o acompanhamento com a educadora de ensino especial.
É muito giro na reunião de abertura do ano letivo ouvirmos o diretor do agrupamento escolar dizer que temos terapeuta da fala e psicólogos para as crianças, mas depois vemos que dificilmente passará disso, de conversa.
No 2°período a educadora de infância do Gonçalo reformou-se, estão desde o dia 3 de Janeiro com uma educadora às segundas e tiveram uma educadora nas manhãs da última semana. Fora isso, estão a ser acompanhados apenas pela auxiliar da sala, que tem feito tudo e mais alguma coisa. A educadora da sala do lado vai ajudando a orientar, mas obviamente, isso fica longe do desejável.
Com isto, eu deixei de poder contar com a educadora para me esclarecer certas dúvidas. Portanto tenho colocado algumas questões à direção da escola através de e-mail.
Já me disseram que o Gonçalo irá ter uma avaliação com a terapeuta da fala, mas não sei quando. A educadora de ensino especial não tem ido à escola, portanto não me parece que esteja a fazer algum trabalho com o Gonçalo, pois se antes era feita a articulação com a educadora principal, e agora não há educadora principal parece-me óbvio que o acompanhamento tem sido zero.
O que me chateia é que ninguém nos informa. Se os pais não andarem sempre a questionar é como se nada se passasse.
Entretanto falei com a educadora que os acompanhou na última semana, pois foi a educadora que já fazia as segundas-feiras no ano passado. Portanto conhece bem o Gonçalo.
Perguntei-lhe se nota diferenças/melhorias no Gonçalo e ela disse-me que nota bastante. Está mais calmo, ouve, trabalha, responde no tempo adequado, não explode como era habitual e está muito mais concentrado.
Claro que isto já é um avanço e tranquiliza-me um pouco.
Entretanto, um dia no caminho para a escola iamos a falar sobre alguns trabalhos e colegas:
- A educadora Cristina ralha muito com os teus colegas?
- Ralha com o Xavier... oh mãe, mas ele é terrível...
- E contigo, ralha?
- Não.
- Tens feito todos os trabalhos?
- Sim.
- E tens estado calmo?
- Sim, calmo e muito concentrado... mãe, achas que sou um menino especial?
Ora bem, senti um aperto no peito, um calor a subir por mim acima e respondi:
- Claro que és especial filho! Para a mãe e para o pai és o menino mais especial do mundo. Tal como as primas também são especiais para nós e para as tias e os avós... tu és o nosso príncipe e elas são as nossas princesas...
- Ah, estou a perceber.
Claro que percebi que esta pergunta não vinha sem razão. Ele teve que ouvir algo nesse sentido, e dado que a conversa estava a ser sobre a escola, levou-me a pensar que esta história de "menino especial " também viesse da escola.
Assim que chegámos partilhei a conversa com a auxiliar, que me disse logo que era conversa da antiga educadora, pois quando ele não queria trabalhar e ela o permitia, os colegas manifestavam-se e a sra respondia que "o Gonçalo é um menino especial"...
É que a Sra de tantas boas intenções que tinha, às vezes dava uns tiros ao lado. E imagino-a mesmo a ter esta atitude!
Ele tem um diagnóstico, mas felizmente não afeta as suas competências motoras e/ou intelectuais. Não há razão para ele não trabalhar, ou para trabalhar só quando entende, nem para dizer às outras crianças que ele é especial!
Tanto que ele percebeu que havia alguma coisa errada nesta afirmação e fez-me esta pergunta. Isto deixou-o intrigado e desconfortável!
Eu fiquei para morrer, e com raiva ao mesmo tempo... enfim.
Daí eu ser insistente. Questiono, comento e digo o que tenho a dizer. Não permito que ele seja tratado de forma diferente, muito menos de forma que o deixe desconfortável.
A educadora até chegou a dizer-me que eu era uma mãe muito preocupada e atenta. E sou! E não deixo que me atirem areia para os olhos com falinhas mansas.
Por estas e por outras é que tenho insistido para ele ter terapia da fala, psicólogo e o devido acompanhamento com a educadora de ensino especial. São direitos que tem e o facto de ser um aluno com um diagnóstico leve, de leve não tem nada. O problema de ser leve é que vai sendo empurrado com a barriga e ninguém faz nada... "ah, é leve...".
Agora vocês perguntam-se se eu não conseguir tudo isto junto da escola, se vou deixar o Gonçalo sem terapia da fala e psicólogo.
Não, não vai ficar sem nada. Simplesmente não terá tudo na regularidade pretendida, já que são consultas caras.
E facilitava-nos muito a vida se tivesse este acompanhamento na escola. Na maioria dos dias que ele tem psicomotricidade, já não vai à escola, por causa do horário. Se tiver de faltar para ir a terapia da fala e ao psicólogo ainda pior.