terça-feira, 21 de maio de 2024

PHDA E PEA - PRECONCEITO DAS CRIANÇAS

 Hoje o Gonçalo quis ir ao parque perto da nossa casa, que por sinal está ao lado da Escola Básica e do ATL. 

Reencontrou três colegas que foram da sua turma no ano passado, dois deles gémeos, um menino e uma menina, que nasceram no mesmo dia do Gonçalo (lembro-me da mãe deles nesse dia na maternidade, o mundo é pequeno...) e outra menina.

Nas férias da Páscoa já se tinham encontrado lá, e a conversa já tinha sido idêntica.

Uma grande festa, abraços, beijinhos e vai que surge a pergunta "em que escola estás" e ele responde, e eles ficam admirados. Ao que ele responde muito tranquilamente "eu ainda ando na pré, não estou no primeiro ano".

O miúdo, da primeira vez, não ficou incomodado com isso, mas as miúdas vieram logo a correr ter comigo: "o Gonçalo ainda anda na pré?".

Eu respondi que sim, obviamente, e elas lá foram à vidinha delas.

O Gonçalo brincou com o menino, nesse dia, e pronto.

Hoje, voltam a encontrar-se e surge novamente a pergunta. E pode parecer mal eu dizer isto, já que estou a falar de crianças com 7 anos feitos há pouco tempo, mas a pergunta soa-me a desdém "ainda andas na pré? Aiiiinnnda?!"

Ao contrário do outro dia, hoje estavam mais crianças, que não conheciam o Gonçalo, e o seu antigo colega resolve começar a fazer-lhe perguntas, como se o Gonçalo fosse uma "aberração" por ainda estar na pré. 

- Sabes quanto é um mais um? - e ri-se para o outro miúdo, como se dissesse "queres ver, não vai saber"...

O Gonçalo olha para mim, que estou sentada um pouco desviada, mas atenta à conversa, e diz: - Mãe, um mais um é quanto? Dois?

E eu digo que sim.

O miúdo descontente com a minha ajuda, pergunta-lhe: "- E 3 mais 3? Mas não podes perguntar à tua mãe."

O Gonçalo levanta 3 dedos de uma mão e depois 3 dedos da outra e diz: "- Então, 3 mais 3 são 6, não vês?"

A mim, aquela situação estava a irritar-me e só pensava "mas quem é que estes putos se julgam? Tão pequenos e já a quererem rebaixar outro."

Mas o meu filho não! O meu filho supera-se, supera-me... Não sei se será ingenuidade ou inteligência, mas ele respondeu sempre super despreocupado e confiante. Os outros até podiam estar a achar-se superiores por estarem no primeiro ano enquanto ele continuava na pré, mas ele não se sentiu inferior.

Ele continuou a brincar, correu, subiu e desceu escorregas, enquanto os meninos continuavam a cuchichar sobre ele e as meninas continuavam a perguntar se ele andava na pré. 

A determinada altura chamei-o e disse: "- Filho, se as meninas voltarem a perguntar se andas na pré, podes perguntar qual é o problema de tu andares na pré. "

Voltam a perguntar, sempre com um ar que me estava a irritar, e ele fez o que lhe disse. Elas ficaram sem saber o que responder e aquela conversa acabou ali.

Até que ele foi brincar no ATL com as meninas e outras crianças e percebi que integra-se bem e consegue manter a brincadeira. Perguntou a outras duas crianças o nome, disse o dele, e brincou às casinhas com eles. Até "lavou à loiça" porque ninguém quis lavar e fartou-se de falar. 

As miúdas acabaram a discutir e cada uma para seu lado a chorar. Os miúdos desentenderam-se a jogar futebol e ficaram de castigo. E o Gonçalo e outro menino continuaram a brincar satisfeitos a fazerem churrascos e hambúrgueres faz de conta.

O que é que esta experiência me diz. 

Que há pessoas mazinhas e que começam logo a ser mazinhas em crianças. Há quem se ache superior, e começa a sentir-se logo em criança. Será da educação que têm em casa, será logo da personalidade, será um pouco dos dois...? 

Por outro lado, há quem não se ache nem melhor nem pior, e que leve a vida descontraídamente.

Hoje o meu filho deixou-me muito orgulhosa, porque vi que é uma criança a ser criança, que está preocupado com a sua vidinha e pronto.

Não consigo deixar de pensar que o facto destes miúdos fazerem comentários sobre ele estar na pré, não esteja relacionado com a forma como a educadora o tratava no ano passado. 

Acredito que ela não o icentivasse o suficiente e que os outros pensassem que ele era menos capaz, pois não tinha os mesmos conhecimentos que eles. E não me esqueço da conversa de "o Gonçalo é um menino especial"! 

Por outro lado também penso como é que estes comentários afetam crianças, e pais, que têm défice cognitivo, e apresentam mesmo dificuldades de aprendizagem. 

Não é fácil, daí a importância de explicar desde cedo que não somos todos iguais e trabalhar estas pequenas coisas em casa.

Do vosso ponto de vista até pode parecer exagero da minha parte, mas pronto, sou a mãe e se por um lado quero dar-lhe todas as ferramentas e mais algumas para ser um homem desenrrascado, honesto, feliz, etc, por outro lado também quero protegê-lo de situações que parecem insignificantes, mas que têm um fundo de maldade!

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