sexta-feira, 2 de agosto de 2024

PHDA E PEA - PRECONCEITO DOS COLEGAS 3

 Ultimamente as idas ao parque perto de cada reduziram. E nas vezes que temos ido, o Atl já está fechado, portanto não tem havido contacto com as crianças de lá. 

Ontem, o Gonçalo apercebeu-se de que os miúdos andavam a brincar no parque e pediu-me para irmos lá um pouco.

Contrariada, lá fui eu, avisando-o que era só um bocadinho, etc, etc...

E aconteceu tanta coisa em tão pouco tempo, nem 10 minutos lá estivemos, vejam só:

- Primeiro, estavam duas pessoas encarregues das crianças, presumo que educadoras. Sentadas no baloiço (do parque público) a conversarem tranquilamente. Nós dissemos bom dia, responderam com muito custo. 

O parque é público, mas fico sempre com a sensação que as senhoras acham que o parque pertence ao Atl.

Além disso, os miúdos parecem-me entregues a si mesmos...

- Segundo, o Gonçalo foi cumprimentar as crianças com o jeito dele, de se apresentar aos que não conhece e perguntar-lhes o nome. Isto para mim faz parte da boa educação, mas parece que os miúdos estranham.

- Terceiro, o seu ex-colega de sala de pré começa imediatamente a inferiorizá-lo.

Quando me apercebi a conversa ía neste ponto:

O Gonçalo disse-lhe: - Eu fui da tua sala na pré. 

O colega responde: - Na pré? Eu não ando na pré...

- Sim, no outro ano, quando andavas na pré, fui da tua sala.

- Tu não sabias fazer nada, eras o pior da sala, tiveste a pior nota e chumbaste na pré...

Os outros, os macaquinhos de imitação, começaram a gozar "Eh, chumbou na pré... teve a pior nota..."

E o Gonçalo pergunta: - Pior nota?!

" Aíí, nem sabe o que é a nota... chumbou na pré..."

Enquanto isso, o ex-colega continuava todo inchado com o discurso de "eras o pior, nem sabias pintar, bla, bla, bla".

No meio daquela conversa toda, gritaria, e  risota o Gonçalo permanecia tranquilo, ria e falava, até que quando um lhe disse qualquer coisa ele responde: "Excuse me?! "

Os outros calaram-se de imediato, e ele disse: "- Então, não sabem falar inglês?"

Eu saí de onde estava, aproximei-me e disse-lhe para irmos embora. 

Mas não podia passar sem dizer nada, certo? Então disse: "- Meninos, vocês não sabem que na pré não se chumba?"

" - Ah, mas ele ainda está na pré... é porque chumbou. "

" - Não, não se chumba na pré. Ele ficou mais um ano porque eu quis que ficasse. "

E eles, macaquinhos de imitação, vão a correr ter com o "chefe: " Zé,  não se chumba na pré..."

Claro que o miúdo nem se aproximou de mim, nem respondeu. 

Entretanto um dos que estava a gozar diz o seguinte: "- Ah, isso também aconteceu comigo. Eu fiquei mais um ano na pré porque os meus pais quiseram, e não chumbei..."

E pronto, nós fomos embora e eu comentei: "Não gosto do Zé."

- Porquê mãe? Ele é meu amigo.

- Não é não, filho. Os amigos não gozam, e ele está sempre a gozar contigo. 

- Não está nada, mãe. É só a brincar, ele às vezes até me dá abraços. 

Posto isto, começo a panicar. É um misto de sensações, por um lado não percebo a necessidade, a satisfação de uma criança de 7 anos em inferiorizar outra criança.

É de imediato, não há outra conversa e o miúdo começa logo com este discurso.

Se isto é ao pé de mim, imagino como foi no ano em que eram da mesma turma. Não consigo deixar de pensar que a educadora não lidou bem com a situação e colocou o Gonçalo numa situação frágil. 

Por outro lado vejo o meu filho super ingénuo a achar que o outro é seu amigo. Ao mesmo tempo, se calhar até é bom ser ingénuo porque não fica triste. Mas por outro lado, não sei até que ponto é assim tão ingénuo, já que acaba por dizer coisas que sabe que os outros também não sabem... como se pensasse: "são tão espertinhos, vamos lá ver se sabem isto".

Fiquei de tal modo abalada, que enviei mensagem à terapeuta do Gonçalo a pedir-lhe alguma luz, ou dica.

Ela disse-me que se a criança tem necessidade de inferiorizar os outros, provavelmente tem esse exemplo em casa. Até me perguntou se o miúdo já fez isto ao pé dos pais.

Nunca fez. O pai é uma pessoa com um ar bastante arrogante, mas foi sempre educado comigo. No entanto, o miúdo tem irmãos muito mais velhos, portanto poderá ser esse o exemplo. 

Além disto, a terapeuta disse-me para ir explicando a diferença entre colega e amigo. Os colegas estão na escola, podemos brincar com eles, mas não os convidamos para irem à nossa casa, por exemplo. 

Enquanto os amigos, podem frequentar a nossa casa e combinar coisas fora da escola.

Sugeriu fazermos isso, combinarmos programas fora da escola com amigos.

À noite voltámos a falar no assunto ao jantar, mas ele não percebe a gravidade da situação.

Felizmente não é alguém que ele tenha de lidar diariamente. Se ficasse nesta escola, presumo que isto fosse um problema, pois o miúdo iria andar sempre com esta conversa. Assim, estão em escolas diferentes o que me tranquiliza. 

Claro que iremos lidar com muitos Zés ao longo da nossa vida. Quem nunca lidou, não é verdade? Mas para já é este que me irrita.

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2 comentários:

  1. Não tenho comentários... mas, infelizmente, estes Zés fazem parte da nossa sociedade... Força!

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    Respostas
    1. É verdade, Carla! E nós só temos de aprender a lidar com eles. Faz-me confusão pela questão da idade, mas é de pequeno que se começa, até nestas coisas... 🙄
      Beijinhos e obrigada!

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