Ontem fui ler um livro à sala do Gonçalo.
Neste mês está a decorrer uma atividade para estimular a leitura, e têm ido vários familiares, das várias salas e também das várias escolas, lerem livros às salas ou bibliotecas escolares.
Ontem foi o meu dia e escolhi um livro sobre diferenças e inclusão: Uma lição de Amor, de Carmen Garcia.
Foi muito giro, acho que os miúdos gostaram.
O Gonçalo estava naqueles dias menos bons, porque chegámos mais tarde do que habitual à escola e ele não teve tempo de brincar antes de entrar. Por isso ficou logo ali um certo mal estar, mas esteve sentado ao meu lado, de trombinhas e em silêncio.
O livro fala de vários questões, onde está o autismo, a PHDA, mas não fala desses nomes. Eu expliquei isso às crianças pois acho importante eles saberem reconhecer e se há nomes, temos de chamar as coisas pelos mesmos.
Só nessa altura é que o Gonçalo se manifestou e disse: "eu tenho PHDA, por isso é que fico agitado e não gosto de barulho."
Fiquei tão orgulhosa, porque mostra que ele tem noção do que tem e que as conversas que vamos tendo não são em vão.
Depois de ler o livro e de falarmos um bocadinho sobre ele, a professora convidou-me para ficar na sala com eles até ao recreio.
Aceitei de bom agrado e fiquei sentada ao lado do Gonçalo. Ele também gostou da ideia e depois animou-se.
Aquela hora e pouco que lá estive, deu para perceber, ou comprovar, algumas coisas:
1° o Gonçalo tem uma ótima colega do lado, super preocupada com ele, sempre a orientá-lo: "vá Gonçalinho, agora tens de escrever a data e o teu nome...".
São colegas desde a pré e sempre se deram bem. Já no ano passado a educadora dizia que ela era muito importante para o Gonçalo e que seria bom ficarem na mesma turma.
2° A professora é muito desorganizada. Foi algo que achei logo de início, como referi noutros posts, mas agora ainda é mais óbvio. E já houve várias situações onde isso é notório, mesmo com outros pais. Mas estar lá na sala, deu para perceber que é em tudo. A sua forma de ensinar, de organizar os trabalhos, de se orientar, de orientar os alunos, é muito confusa. Cada aluno estava a fazer uma ficha. O Gonçalo supostamente está mais atrasado nas fichas, mas depois cada um estava numa página.
3° Além da desorganização, que a meu ver é péssimo sinal, também achei que apesar de gritar muito com os alunos, não consegue pô-los na ordem. Os miúdos são desobedientes, não a respeitam e a mim pareceu-me que ela não consegue mesmo ter mão naquela malta.
São dois grupos, um de 1° e um de 4°. O de 1° ainda vai estando na ordem, mas parece-me que está por um fio, o de 4° é a desordem total. Não são todos, há meia dúzia calminhos e calados, mas os restantes desestabilizam muito. E pronto, a professora não consegue pô-los na ordem, por muito que grite...
O Gonçalo está sentado com um grupinho calmo, portam-se bem, mas acaba por se distrair com tanta algazarra. Depois fica calado, sem fazer nada e no mundo dele. Não tem nada a ver com apatia ou com medicação desadequada, fraca ou forte, tem mesmo a ver com o ambiente da sala.
Como eu estava lá, ele trabalhou e consegui que estivesse mais focado no trabalho dele. Mas percebi que essa é a dificuldade, ele não tem ferramentas suficientes para conseguir focar-se sozinho, quando à sua volta há uma espécie de cenário de guerra.
A professora não o consegue orientar, tal como também não consegue orientar os outros. Vi-a ralhar com um porque fez mal o exercício (eles não sabem ler, alguém tem de lhes dizer o que fazer), vi-a a ralhar porque estava tudo sujo, vi-a a agarrar na mão de um miúdo e a escrever...
Compreendo perfeitamente que seja difícil orientar e ensinar dois anos, mas há muitos professores a fazerem-no bem. Duvido que a desorganização ajude uma pessoa a ser bom professor. E fiquei mesmo com a ideia de que a professora está com os nervos à flor da pele, explode com facilidade e não tem paciência.
Houve vários episódios engraçados, ou caricatos, quando contei ao meu marido ele disse que parecia um episódio dos Batanetes, ou dos Malucos do Riso, de tão inusitados.
Por um lado, isto preocupa-me (bastante). Mas por outro já resolvi relativizar. Eu não vou mudar a professora, mas posso puxar pelo meu filho em casa. Posso contar com a psicomotricidade, a terapeuta dá-nos muitas dicas, ele também tem outras duas professoras, a do apoio (que apoia a professora, ou seja, uma fica com uma turma e a outra com a outra turma) e a de ensino especial e tudo junto deve de ajudar.
Estar lá fez-me perceber que o problema não é só ele, muito pelo contrário. Ele precisa de rotinas e de organização, e não tem isso na sala de aula. Por isso dispersa. Se não estivesse a tomar medicação provavelmente não ficava sentado a olhar para o nada, era dos que se levantava e andava lá a irritar a professora.
No ano passado, a educadora era super organizada e eu percebi que isso fez muita diferença na postura dele, pois a anterior já era mais descontraída.
Este ano parece tudo meio perdido!
No fim a professora agradeceu a minha presença e disse que foi bom ter lá ficado para ver como o Gonçalo está e como é o método de trabalho dela... eu ainda sugeri, meio a brincar: "posso vir todas as sextas, se quiser..."
Oh pá, eu nem sei se chore ou se ria! Sou sincera!
Sem comentários:
Enviar um comentário