segunda-feira, 4 de março de 2024

PHDA E PEA - ACOMPANHAMENTO ESCOLAR

 Há dias li qualquer coisa sobre a sobrecarga mental das mães (no caso falava especificamente das mães) de filhos autistas. 

E ao ler aquele pequeno texto, identifiquei-me muito com o que lia, pois vejo que para conseguirmos alguma coisa para os nossos filhos (e aqui falo nas mães no geral) a nível de acompanhamento escolar, temos de ser chatas, persistentes, insistentes e um bocadinho hipócritas, porque há dias em que a vontade é ser mesmo rude com certas pessoas, mas temos de manter a educação e o sorriso na cara.

Bem, explicando os meus desgostos, aqui vai.

Ainda no primeiro período deste ano letivo pedi, junto da educadora entretanto aposentada, que o Gonçalo fosse novamente avaliado pela terapeuta da fala do agrupamento escolar.

Logo nesse primeiro pedido a sua resposta foi algo do género "vai ser difícil  porque é só uma terapeuta para o agrupamento todo". Eu fiz ouvidos de mercador e continuei a insistir nessa avaliação. 

Na altura tive uma reunião com a educadora (agora aposentada) e com a educadora de ensino especial que estava a acompanhar o Gonçalo por ele estar abrangido pelo DL 54/2018, que estabelece os princípios para a inclusão nas escolas. 

Nessa reunião, além de me explicarem no que consistia o acompanhamento especial do Gonçalo, voltou a falar-se da avaliação com a T.F. e também com um psicólogo. E ambas as educadoras voltaram a frisar a falta de terapeutas na escola, etc. 

Deixei claro que esse não era um problema meu, pois eu não tinha como arranjar terapeutas para a escola. Mas que pretendia uma resposta digna e concreta, e não apenas esta conversa de que "vai ser difícil porque não há terapeutas".

Passados uns meses e com a educadora a reformar-se e eu a ver tudo na mesma como a lesma, e ainda a turma sem educadora principal, enviei um e-mail para a direção a insistir na avaliação e a questionar sobre a falta de educadora. Afinal de contas ninguém nos tinha informado de nada, do que poderiamos esperar, etc.

Enviei o email às 18h, às 19h tinha uma resposta, muito esclarecedora, por sinal, e que mostrava algum cuidado na sua concepção, pois estava tudo super bem explicado. 

Nesse e-mail fui informada que o meu pedido ía ser direcionado a EMAEI (equipa multidisciplinar de apoio à educação inclusiva) e não fiquei a perceber se já havia um pedido ou não, pois nunca referiram isso. Fiquei com a ideia que foi sempre tudo tratado de forma oral, e não houve registo nenhum.

Entretanto, no dia a seguir ao meu email, a educadora enviou-me mensagem a dizer que a terapeuta lhe tinha ligado a dizer que assim que tivesse disponibilidade iria avaliar o Gonçalo. Mas, novamente, isso não chegou ao papel, não há registo de nada, portanto é como se ninguém tivesse dito nada.

Um mês e meio depois do meu e-mail, e de outros dois a reforçar o pedido (estes nunca foram respondidos) e já com educadora nova na sala, volto a pedir uma reunião com a educadora de ensino especial e agora com a nova educadora. 

Pedi esta reunião porque havia uma nova pessoa envolvida, que também se mostrou interessada nessa reunião, porque queria saber como estava o acompanhamento da educadora E.E. a ser feito com o Gonçalo e porque não gosto de estar com dúvidas. 

Novamente houve a conversa de não haver terapeutas suficientes, e eu novamente disse que não era um problema que pudesse resolver. Entendo que uma pessoa não chega para tudo, mas não entendo como é que o aluno no ano passado foi avaliado com tanta facilidade e agora não se consegue dar seguimento nenhum. 

No mesmo dia recebi então a resposta da EMAEI. Resumiram o caso Gonçalo, as vezes que eu entrei em contacto com a equipa, as reuniões que fui tendo com as educadoras e o facto do Gonçalo estar a evoluir bem com a medicação e terapia paga pela família. Referiram que o DL 54/2018 enfatiza o acompanhamento do aluno tendo em conta o seu desenvolvimento e não o seu diagnóstico! E referiram também que o Gonçalo foi avaliado no ano passado e que a terapeuta concluiu que ele não precisava de terapia da fala.

Esqueceram-se que no mesmo relatório, a terapeuta da fala, frisou que o Gonçalo não dizia bem todos os sons do Português-Europeu, nomeadamente um grupo consonântico (no caso dele são palavras com pr, br...) mas que não representava um problema pois estava dentro da faixa etária para o adquirir. 

Esta faixa etária era até aos 6 anos e meio, idade que completou em Outubro. Portanto  se no ano letivo passado estava tudo bem porque ele tinha 5 anos e meio, este ano já representa uma preocupação, pois ele fará 7 anos em abril.

Informaram-me ainda de que o Gonçalo não precisa de acompanhamento psicológico pois fica bem na escola.

Posto isto, o que devo eu fazer? 

Para já, respondi educadamente ao e-mail e dei uma no cravo e outra na ferradura. Usei umas quantas metáforas para os chamar de incompetentes e fiquei mais aliviada. 

E vou ficar por aqui no que toca à escola, pelo menos por agora. 

A minha prioridade agora é garantir as devidas terapias. Como vejo dificuldades na escola, e já estou a ficar desgastada, vou tentar outras opções. No entanto, não sei se ficarei por aqui.

Há outras equipas a quem recorrer, como a DGEST, por exemplo. Também posso colocar a questão à Provedora da Justiça, saberei logo se o caso está a ter a atenção merecida. Mas pergunto-me se será mais um desgaste? Por um lado acho que ficarmos quietos não nos leva a nada, por outro acho que insistir pode ser que resulte, afinal água mole em pedra dura tanto bate até que fura. 

Eu percebo que o caso do Gonçalo não é grave, que apesar do diagnóstico e do ano passado muito atribulado, ele evoluiu muito e parece bem encaminhado. Mas por outro lado acho que desvalorizam, que empurram com a barriga e que mesmo a familia solicitando alguma ajuda, não ajudam, não se interessam... não é grave, mas se não houver acompanhamento fica grave! 

Agora a parte boa. Na reunião com as educadoras foram esclarecidos alguns pontos, nomeadamente em que consiste exatamente o acompanhamento da ed.  ensino especial.

Este acompanhamento é feito de forma indireta, pois o Gonçalo não apresenta dificuldades que justifiquem o trabalho direto. Por outro lado, se a educadora principal sentir alguma dificuldade, aí terá as orientações da ed.de ensino especial. 

Ambas disseram-me que até ao momento não viram essa necessidade pois ele tem evoluído bem.

Também reforçaram aquilo que já tinha sido dito, que o Gonçalo tem um vocabulário acima da média para a sua idade, usa adjetivos que as outras crianças da sala não usam e que é muito inteligente. Tem capacidade de argumentação, coisa que no ano passado os envolvidos achavam que não tinha, e usa muitas metáforas, mesmo ele não fazendo ideia do que isso é. 

Há dias não cumpriu uma ordem da auxiliar na hora do recreio, e ela disse-lhe para se sentar um pouco "de castigo". Entretanto a educadora chamou-os para irem para a sala e deu-se a seguinte conversa:

"- Para a sala?! Mas eu não brinquei nada...

- Não brincaste porquê, Gonçalo?

- Não tive tempo.

- E não tiveste tempo porquê?

- Porque a Isabel mandou-me sentar.

- E porquê?

- Ai... o meu coração... (já não lhe interessava o porquê)

- Então, estás bem?

- Estou magoado no meu coração...

- Mas porquê? Caiste, bateram-te com a bola...?

- Não, estou triste! Não queria ir já para a sala..."

Aproveitei para levar os trabalhos que tem feito na psicomotricidade e as educadoras também ficaram satisfeitas, pois os resultados são muito proveitosos! 

Portanto nem tudo é mau. Apesar de me sentir desamparada numas coisas, noutras sinto um grande suporte e isso acaba por ser motivador.

O importante é não baixar os braços! 

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