quinta-feira, 13 de junho de 2024

PHDA E PEA - DIVERGÊNCIAS COM COLEGAS

 O autismo não tem cara, sabiam?

 É que há uma tendência para se achar que alguém com PEA tem de ter alguma cara especial, mas não. 

O Gonçalo tem um colega na pré, de outra sala, que é autista. Eu desconfiava, mas não tinha a certeza. Lá está, não se vê pela cara.

O menino é muito giro, olhinho azul, com ar de reguila e anda sempre acompanhado de um dinossauro de peluche. 

É frequente ele já estar na escola quando chegamos e ele vem muitas vezes à porta da sua sala, dizer olá ao Gonçalo. Por sua vez, o Gonçalo também lhe diz sempre olá (a ele e ao dinossauro).

Tudo parecia normal, e eles pareciam gostar um do outro.

Na semana passada o Gonçalo chega-nos a casa a dizer que o M. o tinha empurrado no recreio, e que ele tinha caído e chorado e depois com a irritação tinha partido o seu volante. (O Gonçalo todos os dias leva um carrinho diferente para a escola e um volante que ele adaptou de outro brinquedo)

Eu achei estranho o menino ter esta atitude, pois pareciam sempre amigos e nunca tinha havido qualquer queixa por parte do Gonçalo. 

No dia seguinte, a auxiliar da sala do Gonçalo comentou comigo o sucedido e eu cruzei-me com o pai do menino no corredor e comentei com ele que no dia anterior eles se tinham chateado. O pai sorriu e ao mesmo tempo pareceu surpreendido e respondeu: "a sério?!" Mas não adientei mais conversa, foi mesmo só comentar por comentar.

Ontem o Gonçalo voltou a dizer-me que o M. o tinha magoado.

E aqui a vossa amiga começou a ficar preocupada. Por um lado, porque acho que não há aqui vítima nem vilão, mas parece-me estranha esta mudança. 

Enviei então um email à educadora do Gonçalo a expor a minha preocupação e a pedir para estarem atentas, pois tenho algum receio que estes acontecimentos se repitam e se tornem graves.

Sou sincera, nós dizemos ao Gonçalo que não se bate em ninguém mas se lhe baterem para ele retribuir. Neste caso não o fizemos e eu frisei que se acontecesse algum desentendimento com o M. para ele se afastar e ir contar a um adulto.

O facto de serem duas crianças com determinadas características, acho que o caso precisa de muita atenção. Até porque eles podem perder o controlo com facilidade e transformar uma coisa pequenina em algo gigantesco.

Ontem à noite o Gonçalo começou a dizer que não queria ir à escola, e sei perfeitamente que era esta questão que estava a perturbá-lo.

Falei com ele, expliquei-lhe e lá fomos para a escola... atrasados, mas fomos.

O M. já lá estava e foi connosco ao vestiário colocar o seu casaco. Eu sorri-lhe e ele começou a falar comigo, algo que eu deduzi que fosse sobre a sua mochila de dinossauros. Percebi hoje que ele ainda não fala bem.

Ao regressarmos às salas, ele e o Gonçalo iam à minha frente, e reparei que ia a andar nas pontinhas dos pés, (característica do autismo).

Então, depois falei pessoalmente com a educadora do Gonçalo, que me contou o que tinha acontecido e que ao contrário do Gonçalo que se expressa muito bem, o M. não verbaliza bem o que sente. Então há alguma dificuldade em perceber o que o incomóda.

Pensam que ele não quer ser abraçado e o Gonçalo (na verdade a sala toda do Gonçalo) gosta de dar abraços. Como ele não quer, empurra e acaba por magoar.

O pior disto tudo é que o menino automutila-se quando vê que fez asneira...

Amigas, eu até me arrepiei quando ouvi isto, e fiquei tão triste... Imaginem o que é uma criança que não fala bem, estar frustrada por qualquer motivo, não conseguir expressar o que sente e magoar-se a si mesma? O menino não tem mais de 6 anos...

Bem, eu fiquei mesmo triste com isto tudo e disse à educadora que vou conversar com o Gonçalo para tentar perceber o que aconteceu antes de o M. o magoar. Vou também explicar-lhe que ele não gosta de abraços e que tem de ser respeitado. Há outras formas de mostrar-lhe que gosta dele..

Como as educadoras sabem do que se passa, como sabem da minha preocupação, penso que dêem também mais atenção aos dois no recreio para anteciparem problemas. 

Não faço ideia se os pais do menino foram informados de alguma coisa, mas acredito que não. 

Espero que não se repita, porque é mau para ambos. 

Não faço ideia do que vai na cabeça do menino, ele hoje pareceu-me bem disposto com o Gonçalo, mas o Gonçalo fica a matutar nestas coisas e quando algo o incomóda ou preocupa, ele fala imenso disso e fica enervado, preocupado e ansioso.

Daí ser importante falar com ele, para lhe explicar estas coisas, de modo a que a amizade não fique afetada e isto não traga chatices futuras! 

Mas confesso, isto tudo deixa-me de coração apertado!

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