domingo, 28 de julho de 2024

PHDA E PEA - AS MINHAS DIFICULDADES COMO MÃE

 Por certo terei outras dificuldades como mãe de uma criança com PHDA e PEA, mas hoje partilho a mais óbvia.

Tenho muita dificuldade em perceber onde está a linha que separa as características destas duas perturbações e as características normais em qualquer criança sem nenhuma das duas. 

Há dias em que me pergunto se será exagero meu, ou se por outro lado não estou a desvalorizar coisas importantes no desenvolvimento do Gonçalo, tendo em conta a PHDA e a PEA. 

Há birras e teimosias normais em qualquer criança, e há crises e desrelugações comuns em crianças com PHDA e/ou PEA, e isto pode ser difícil de diferenciar.

Se eu, que sou a mãe, que estou minimamente informada, às vezes tenho dúvidas, imaginem quem está de fora. Quem não sabe nada sobre o assunto, quem acha que isto são modas e que umas bufetadas bem dadas resolveriam muito bem a situação, terá de certeza muita dificuldade em perceber a diferença entre uma birra e uma crise. 

O engraçado nisto tudo, é que vejo pessoas a não conseguirem educar os seus filhos, a não conseguirem incutir respeito, regras, maneiras, etc, mas que depois acham muito fácil opinar sobre estas questões. E que acham, apesar de não o dizerem, que eu estou a exagerar em determinadas coisas, por acharem que o Gonçalo não tem nada. 

Quando os caso são graves, quando vemos crianças ou jovens onde percebemos facilmente que existe qualquer coisa fora do normal, "é fácil " perceber. Na verdade ninguém sabe da luta dos pais, das dificuldades, de nada, a não ser eles, mas para nós que vemos de fora, percebemos que há cuidados a ter com aquela criança/jovem.

No entanto, não sendo um caso grave, o apontar de dedo já é muito fácil, muito natural. Afinal o mundo está cheio de pais perfeitos, que educam filhos perfeitos, portanto é fácil a crítica, o olhar de soslaio ou até a piadinha sobre a birra ou teimosia.

Pronto, e surge aqui outra das minhas dificuldades como mãe. O saber relevar estas situações. O calar, quando não quero calar, quando as minhas entranhas se revoltam e eu tenho de segurá-las lá no meu interior. 

No fundo eu sei que não vale a pena, há quem nunca vá entender, há quem tenha um grande dom para resolver os problemas dos outros, apesar de ter dificuldades em resolver os seus, portanto não sou eu que vou mudar isso. Nem tenho, nem quero fazê-lo... cada um com as suas lutas.

E é nisso que nestas situações em que tenho de decidir rápidamente se falo ou calo, que penso. A minha luta não é essa. 

Voltando às minhas lutas, muitas vezes sinto realmente essa dificuldade e tenho receio de errar no "tratamento", pois cada situação exige um tipo de resposta.

A diferença entre um birra e uma crise é a seguinte: as birras surgem quando as vontades não são feitas, por exemplo. Já uma crise surge quando existe sobrecarga sensorial.

No caso do Gonçalo, a diferença comportamental nas duas situações é muito ténue, daí a minha dificuldade em distinguir. 

Ele não se atira ao chão, ou desata a chorar numa birra. E também não o faz numa crise.

Portanto, para diferenciar, tenho de me focar na situação. 

Por exemplo, ele quer comprar um carrinho e eu recuso. Ele não vai fazer um berreiro, nem bater ou algo do género. Mas vai andar rabugento, implicante, amuado, resmungão e muito pica miolos.

Aqui, se eu lhe der um ralhete, a coisa acalma, mesmo que momentaneamente, mas vai acalmando.

No caso da crise (que felizmente acontece pouco), ele fica um pouco descontrolado, nervoso, incomodado. E o que pode desencandear uma crise?

Normalmente situações de muito barulho, ou muita gente.

No entanto não são todas as situações de barulho ou multidão que o afetam.

Por exemplo nas festas de família, se forem avós, primos, tios, somos muitos e há muito barulho, mas ele está bem, apesar de ter momentos de mais nervosismo.

Se por outro lado, houver pessoas de fora, pessoas com dinâmicas diferentes, ele já se incomoda. Nestas situações fica muito agitado, impaciente, corre sem motivo, faz sons diferentes, bate muitas vezes com a mão na cabeça (estereotopias).

Também é comum ele ficar muito agitado com o choro de bebés, ou de crianças pequenas, no supermercado, por exemplo.

Numa birra, temos de ser firmes e manter o não. 

No caso de crise, costumo mudar-lhe o foco. Assim que vejo que está a acontecer algo que o pode agitar, tento que se concentre noutra coisa.

Nos dias de festas em família, rezo para que não chova, pois mantê-lo em casa com o barulho, o resultado vai ser desastroso. Se puder brincar na rua, ajuda bastante. 

O que não ajuda? Alguém achar que se ralhar ou gritar com ele, a situação vai melhorar. Nestas situações há que ser firme, tal como na birra, mas sem gritaria. Com calma e a falar com um tom baixo. Ter muita gente a opinar nestas situações (costuma acontecer nas tais festas familiares, principalmente a minha mãe e a minha irmã, cada uma à sua maneira... 😅) também não ajuda, até porque nestes casos eu também perco a paciência, o que só vai piorar toda a situação. 

São pequenos detalhes que fazem a diferença. 

Por exemplo, as duas educadoras do Gonçalo tinham formas muito diferentes de resolver ambas as situações. 

A primeira, confundia muito a birra com a crise, fazendo-lhe as vontades para evitar crises, que na verdade eram birras.

A segunda, distinguia bem, e tinha técnicas que o ajudavam a acalmar nas crises, que funcionavam muito bem, e não passavam por fazer-lhe as vontades. 

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