"Ele já está mais calmo, precisava de tempo."
"Isso com a idade passa."
"São fases."
"Ele com o tempo vai conseguindo fazer/aprender."
"Ah, isso não é nada, é só imaturidade."
"Ele com a maturidade vai desenvolvendo."
"Todas as crianças têm o seu tempo."
"Devias de pô-lo no futebol para se concentrar mais."
"Isso é normal, todas as crianças são distraídas."
Estas frases fazem parte das observações que ouço com alguma regularidade sobre o Gonçalo.
São frases que as pessoas dizem com boa intenção, com a intenção de animar, e que muito provavelmente eu também já disse a outras mães, noutras alturas.
Hoje, vestindo a pele de mãe de criança neurodivergente, não gosto destes comentários. Não me ofendem, mas não gosto.
Soam-me a desvalorização, a romantização... coisas que não cabem na nossa luta diária.
O Gonçalo tem desenvolvido bem. A escola está a correr bem, a professora já me disse mais do que uma vez que ele se porta lindamente, que trabalha, é sossegado, não gosta de barulho e acompanha bem os colegas.
Demora mais um bocadinho a fazer, porque se distrai com facilidade e faz muitas paragens. Mas que o acha muito desenvolvido e que pensava que fosse uma criança com mais dificuldades.
Lendo o relatório da pediatra de neurodesenvolvimento é natural ficar assustado, pois tem apenas o diagnóstico, mas não descreve realmente as características e dificuldades dele.
No entanto, apesar de estar a desenvolver bem, há muito trabalho por trás dessa evolução.
Não foi só esperar que a idade lhe trouxesse maturidade, muito pelo contrário.
Têm sido muitas horas de psicomotricidade e trabalho em casa, têm sido muitas frustrações por nem sempre percebermos as frustrações dele, há certos momentos que eu e o pai discordamos das abordagens que temos com ele, há muita leitura e pesquisa sobre o tema, há avanços e recuos...
Quem está de fora, vê uma criança a ser criança. Às vezes mimada e teimosa, às vezes com conversas que deixam certos adultos envergonhados... mas nós, pais, temos consciência de que nem tudo é um mar de rosas!
Há dificuldades! Há dificuldades que vão ser ultrapassadas, há dificuldades que ficarão para a vida toda! Não sabemos quais são e isso angustia-nos.
"Ah, mas isso acontece com todos os pais."
É certo! Mas com os problemas dos outros, posso eu bem. Cada um no seu processo, na sua luta.
Esta é a nossa! Que felizmente temos tido força, discernimento, boa vontade, bom acompanhamento e dinheiro para a enfrentar. (Sim, porque quem não tem o mínimo de poder económico, é triste... o nosso SNS, não ajuda nada, nada acontece... Não é grave, não se cuida, pronto.)
Por isso minha gente, quando uma mãe desabafar convosco, ouçam. Ouçam só, não opinem. Se não estão a passar pelo mesmo, se nunca passaram, ouçam só!
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