sexta-feira, 18 de abril de 2025

PHDA - ESCOLA E FAMÍLIA

 Dou explicações há uns anos, e têm sido algumas as crianças que têm passado por mim, com PHDA. 

Uns com sintomas mais óbvios que outros, uns com comorbidades (a maioria, na verdade) outros não. 

Este ano tenho 3 meninas. 

Uma de 13 anos, além da PHDA tem deslexia. Toma uma medicação natural e é acompanhada quinzenalmente por uma psicóloga. É uma aluna empenhada e organizada, anda num colégio privado e a maior dificuldade que tem a nível escolar é conseguir fixar o que aprendeu, e aplicar nos testes sem entrar em desespero. É muito ansiosa!

Depois tenho outra menina com 12 anos. PHDA, dislexia e Défice cognitivo. Não é medicada e não tem um acompanhamento médico consistente. Saltam de médico em médico (porque os médicos só a querem medicar), não é acompanhada por psicólogo, nem faz terapias. 

É uma criança com bastantes dificuldades de aprendizagem, que tem os testes muito mais fáceis para conseguir fazê-los, mas que a meu ver, está a ser prejudicada pela falta de acompanhamento médico e terapêutico. 

Andou sempre em colégios privados, e este ano mudou de colégio, o que dificultou as coisas.  Recentemente, os pais tiveram uma reunião com professores e direção e lá foram convencidos a levar a menina a um neutopediatra para ser medicada e a fazer alguma terapia semanal, que a ajude no desenvolvimento.

Qual é o problema dos pais relativamente à medicação? Quando foi diagnosticada foi medicada, mas ao fim de 3 semanas pararam a medicação porque a menina estava apática. 

Esta apatia é normal na fase de adaptação. Nós no início não notámos muito no Gonçalo, mas quando a dose de medicação foi aumentada em novembro, notámos bastante. É frustrante, e duvido que algum pai ou mãe se sinta bem a ver esse comportamento nos filhos. No entanto, é um mal necessário, que passado esse tempo de adaptação vai trazer muitos benefícios à criança. 

Até partlhei com a mãe, que o Gonçalo quando começou a medicação, ao fim de um tempo começou também a referir as diferenças que sentia no seu comportamento. Ele tinha 6 anos e teve o discernimento de conseguir fazer a comparação entre o antes e o depois da medicação. Portanto acredito que esta menina consiga também fazer isso, e melhor do que ninguém vai poder dizer como se sente e se vê benefícios ou não. 

Depois tenho uma menina de 6 anos, tem PHDA e é medicada. Fez algum acompanhamento com uma psicóloga, mas como era difícil financeiramente, a psicóloga recomendou a explicação de modo a ter ajuda na leitura, que era a grande dificuldade na altura. O acompanhamento diferenciado na escola é inexistente, a professora tem um método de trabalho antiquado, as crianças ficam impedidas de ir ao recreio caso não terminem os exercicios, ou por outros motivos sem nexo.

Em dois destes casos, vejo alguma desresponsabilização por parte dos pais. 

Parece que veem o diagnóstico como um problema a ser resolvido pela escola, e até por mim como explicadora. Ouço frequentemente coisas do género: "ela em casa não quer estudar", "ao fim-de-semana não dá para fazer trabalhos porque saimos sempre", "eu não tenho paciência para lhe explicar", "eu não sei ajudar nos estudos, já não me lembro de nada disso"...

Compreendo que nem todos os pais consigam ajudar nos estudos, mas só que não atrapalhem já ajudam. 

O que é que podem fazer? 

Podem sempre fazer o básico bem feito. 

Como?

Incentivando a aprendizagem, lendo e mostrando a importância da leitura, criando rotinas que favoreçam a aprendizagem,  criando rotinas que contribuam para o descanso, sentando-se 10 minutos por dia a ajudar na organização dos materiais escolares, no que precisam de levar para a escola (é muito comum esquecerem-se de muita coisa), explicando que é importante terem hábitos de estudo, por pouco tempo que seja, informando-se sobre as dificuldades reais destas perturbações e das estratégias que podem ser utilizadas em casa, falando com os professores regularmente... 

Qualquer pessoa pode ajudar assim. Quem é que ajuda mais, o pai que desvaloriza a escola, que diz que não precisou de estudar para ter o trabalho que tem, dizendo que a matemática não serve para nada e que nenhuma profissão precisa de matemática (e eu a lembrar-me na hora de contabilistas, economistas, engenheiros, arquitetos, gestores... todos a precisarem de saber qualquer coisita de matemática no dia-a-dia), ou será o pai, que até pode não ter muitos estudos, mas lê o jornal/livro em frente aos filhos, sabe de assuntos da atualidade politica e económica, incentiva o conhecimento e o pensamento crítico, que explica a importância de fazer os trabalhos de casa, que sabe as datas dos testes dos filhos, que fala com o diretor de turma...? 

Percebem a minha ideia? Independentemente das dificuldades dos filhos e das dificuldades dos pais, nós pais temos a maior responsabilidade de todas! Não são os professores, nem os explicadores, nem os médicos, psicólogos ou terapeutas, somos nós! Temos de estar na frente dos acontecimentos, a contar com a ajuda de todos os outros, é certo, mas não a esperar que eles façam o nosso trabalho. 

A menina de 6 anos, tem uma espécie de relatório da sua médica com o diagnóstico e a dizer que deve beneficiar de medidas de inclusão. 

Os pais acharam que bastava a criança entregar esse papel à professora e o caso estava resolvido. Não se dignaram a ir à escola entregar o papel à professora e a falar com a mesma sobre a situação. Resultado, a menina deu o papel à professora, a professora disse que não sabia para que servia aquilo e que ia mostrar à diretora da escola. E pronto! Os pais ficaram a achar que estava tudo resolvido! 

Depois esperam um tratamento adequado com a menina, quando eles não fizeram a sua obrigação. Obviamente que a professora não esteve interessada em resolver nada, os pais deixaram-se ficar, e a mãe disse-me que não está dentro destes assuntos... 

Estes assuntos são do interesse da filha, não seria normal irem à escola tratar das coisas? Isto não tem nada a ver com perceber ou deixar de perceber. Alguém nasce ensinado? Há 2 anos eu nunca tinha ouvido falar no Decreto Lei 54/2018, quando ouvi o que fiz? Fui à maravilhosa internet ler. Ninguém me ensinou nada!

No ano passado quando tive a reunião com a EMAIE para serem discutidas as medidas de que o Gonçalo iria beneficiar este ano, eu levei o decreto sublinhado com o que eu e a terapeuta achávamos importante para ele. Eu sabia bem a que medidas as professoras se estavam a referir e uma delas disse-me "vejo que a mãe vem preparada e está bem a par do assunto". 

Tive a ajuda da terapeuta, ela melhor do que eu sabia o que era importante ele ter e o que era importante eu recusar, mas eu fiz a minha parte e li tudo antes da reunião para ninguém me passar a perna, cado tivesse essa intenção. 

Apesar de ter algumas críticas relativamente a este ano letivo, assumo que temos sorte. Eu consigo falar com a professora, há diálogo entre nós, há disponibilidade. E mesmo com as educadoras, a primeira educadora foi essencial para estes desenvolvimentos. A senhora pode não ter conseguido lidar com certos aspetos, mas empenhou-se muito para que os direitos do Gonçalo fossem defendidos. A direcção da escola a mesma coisa, sempre que enviei um email com alguma questão (e eu escrevo que se farta) nunca fiquei sem resposta. Podia não ser logo, podia demorar semanas, mas responderam-me sempre. E realmente vejo que não é assim com toda a gente.

No entanto, nunca fui de ficar impávida e serena à espera, tenho iniciativa, quando não sei pergunto. Não espero que a professora resolva os problemas como se o filho não fosse meu. 

E acho que tem de ser assim, sempre!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sem comentários:

Enviar um comentário