sábado, 23 de junho de 2018

É A MATERNIDADE SOLITÁRIA?

Já tive vários momentos, nestes meus pequeninos 14 meses de maternidade, em que me senti só.

Logo na primeira noite do Gonçalo, na maternidade, ele bolsou várias vezes "coisas" escuras. Chamei duas vezes a enfermeira e só aparecia uma empregada, que me dizia: " isso é normal, é do parto..."- Na terceira vez que chamei, voltou a mesma empregada com a mesma conversa. E só quando eu desci o nível e disse que era normal para elas, mas para mim não era e que ele se engasgava várias vezes, o que me deixava nervosa, é que a enfermeira apareceu. Vinha ensonada, despenteada, e nada feliz com a minha insistência e inexperiência.

Na noite seguinte começaram as cólicas. De vez em quando aparecia uma enfermeira. O discurso era sempre o mesmo, "é normal, é normal". Mas aí senti-me só e estava desejosa de vir para casa para ter a ajuda do meu marido.

O pior, foi perceber que o meu marido também não conseguia ajudar muito. O bebé chorava ainda mais no seu colo e ele ficava a olhar para mim com um ar de quem quer ajudar, mas não sabe mesmo como.

Nestas situações senti-me muitas vezes sozinha, independentemente de quem estivesse comigo.

Mais recentemente voltei a sentir-me só. Apesar de ter muito apoio da minha família, a minha mãe e a minha sogra têm sido incansáveis com o Gonçalo, tenho tido muita ajuda de ambas e estou-lhes muito grata por isso, mas sentia-me só.

Uma vez tive a visita de uma amiga. Perguntou-me como estava uma situação que me andava a preocupar na altura e quando fui para responder ela interrompeu-me, falou, falou, contou a sua experiência, opinou, etc, etc, etc, e não se permitiu a ouvir a minha resposta. Eu naquele momento senti uma tristeza imensa, por ver que alguém que já me apoiou noutras alturas, agora não tenha sequer a amabilidade de me deixar falar.

Percebi também que no geral, as pessoas não percebem o que é ter um bebé, mesmo quando já os tiveram. O que realmente é irónico. Ou porque não se lembram, ou porque fizeram de modo diferente, mas não respeitam as decisões das mães e dos pais. E acham que temos de estar disponíveis, ora para telefonemas às dez da noite (para mim é tarde e não atendo a não ser que seja a minha mãe, o que é muito pouco provável) ora para outro tipo de programas.

Isto deixou-me triste, andei mesmo em baixo. E não é fácil de explicar, por isso não sei se me vão entender. Portanto já ouvi: "faz parte", "sentes-te só? Mas tens o teu bebé...", e por aí. Não é esse só, mas pronto.

Por fim, percebi que era um problema meu (apesar de muitas mães também o dizerem) por isso teria de ser eu a resolver. Não podia esperar compreensão dos outros, porque já se via o resultado.

- Voltei a fazer coisas que gosto de fazer sozinha.
- Aproximei-me de pessoas com os gostos idênticos aos meus ou numa situação familiar idêntica e que compreendem as minhas opções.
- Contactei amigas que não via há anos e encontrámo-nos a horas que os bebés gostam... tipo 9 da manhã!
- Interiorizei que não posso esperar que as outras pessoas entendam e respeitem a minha sensação de solidão, pois cada um tem os seus dramas...

E aos poucos esta sensação está a desaparecer. Sempre gostei de estar sozinha, sempre gostei de momentos de silêncio e esta sensação de que vos falo nada tem a ver com isso. Continuo a gostar de estar comigo! Este sentimento está de facto relacionado com a maternidade e como é algo novo para mim, não consegui lidar muito bem com isso.

Refletir ajuda-me sempre a resolver as coisas dentro de mim. E quando resolvemos os nossos problemas dentro de nós, libertamo-nos. Não culpamos os outros, não nos fazemos de vitimas, não achamos que o mundo está contra nós. Não acham? 😊
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2 comentários:

  1. Olá! Sigo a blog há algum tempo mas nunca comentei...mas este post tinha de ser!
    Tenho um bebé de 8 meses e sei exatamente do que fala! Sim temos o nosso bebé e é a melhor companhia que podemos ter mas faz falta ter alguem para "aliviar a cabeça. alguem que possa tomar um café "quando o bebê deixar" e não a uma hora certa (por exemplo).Até quanto voltei ao trabalho parece que mesmo as colegas que já eram mães não estavam para aí viradas para dar algum apoio...do tipo 'comigo também foi assim mas vai melhorar". Não, os comentários são sempre " habitua te" . Enfim...o importante é nós mesmas não desistimos de nós! Somos mães, mas para sermos boas mães temos de nos valorizar primeiro como mulheres 😘

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    1. É mesmo isso Ana, tal é qual. As pessoas não percebem que não estamos disponíveis a tal hora, mas sim quando dá. Há muita falta de empatia na maternidade! Temos mesmo de ser nós a puxar-nos para cima! Obrigada pelo comentário, representa muito bem o que sinto. Beijinhos

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