sexta-feira, 10 de abril de 2020

NÓS, O FILHO, A ROTINA E A QUARENTENA

No início da quarentena estabeleci que algumas rotinas eram para ser mantidas cá por casa:

- Hora de dormir e hora de acordar,
- Hora das refeições,
- Hora dos banhos,
- Rotinas de limpeza da casa e da roupa.

 Temos mantido estas rotinas. Acordamos e deitamo-nos mais tarde do que era habitual, cerca de uma hora. Mas mantemos uma consistência, não há dias a dormir a manhã inteira, nem noites acordados até de madrugada.

O Gonçalo continua a dormir a sua sesta e muitas vezes aproveito para dormir um pouco com ele. Noto que fica rabugento por volta da mesma hora e ele mesmo aconchega-se para dormir. Talvez esta sesta o impeça de adormecer mais cedo à noite, mas por enquanto vou deixá-lo dormir já que não temos horários a cumprir de manhã.

As refeições continuam a ser programadas, completas e feitas à hora habitual. Até porque o meu marido trabalha semana sim, semana não. Portanto faz sentido manter os horários para não andarmos descontrolados.

A limpeza continua a ser feita diariamente. Aspiramos dia sim dia não, lavamos também o chão nestes dias. Nos outros dias passamos a vassoura, ou mopa, e se houver necessidade passamos a mopa com um pano húmido. Todos os dias se lava loiça varias vezes por dia, é aquele ciclo de cozinhar, lavar loiça,  arrumar, limpar, limpar o fogão, varrer, cozinhar ...

A rotina de lavandaria tem sido mais instável, pois a chuva nem sempre tem ajudado. Quando é possível lavo 2 máquinas de roupa para não acumular, mas mesmo assim temos sempre muita roupa para lavar. O facto da maquina ter capacidade de 5 quilos não ajuda nada. Mas é o que temos! Quando é possível lavar e secar, fazemos. Quando se apanha dobra-se logo e arruma-se nos devidos lugares. Há muito tempo que não passo a ferro, o que facilita muito!

Entretanto deixei de colocar toalha na mesa para as refeições. Era uma toalha por dia, sempre cheia de nódoas, uma trabalheira para tirar nódoas e mais um item para aumentar a pilha de roupa para lavar (sem falar nos detergentes e litros de água para lavar). Não era nada sustentável em nenhum aspeto. Lavei-as e arrumei-as. Voltamos aos individuais, muito mais fáceis de limpar, lavar e secar.

As tarefas são minimamente divididas por mim e pelo meu marido. Eu sou a gestora doméstica, decido o que se faz, quando se faz e quem faz. O meu marido é distraído... eu tenho de lhe dizer para fazer isto ou aquilo. Confesso que há dias em que fico cansada, e digo muitas vezes que parece que tenho dois filhos. Mas é preferível eu dizer e ele fazer, do que eu ficar amuada e não dizer nada e ele não fazer e passar-lhe tudo ao lado. De qualquer forma há tarefas que são sempre dele e raramente sou eu que as faço. Levar o lixo, varrer a cozinha depois das refeições são tarefas dele. Por norma, aproveita e varre a marquise, a casa-de-banho e o corredor nessa altura. Faz algumas refeições, ou dividimos essa tarefa, apanha a roupa (quando eu digo) arruma os brinquedos com o Gonçalo, aspira, já fez pão três vezes durante a quarentena e pãezinhos de leite. Depois vou vendo o que é preciso fazermos e decido quem faz o quê.  Por exemplo, fazer camas e lavar a casa-de-banho são maioritariamente tarefas minhas.

Uma das minhas preocupações, no inicio desta jornada, era manter o Gonçalo fechado em casa tanto tempo. Não é fácil entreter crianças estando sempre em casa. Nos primeiros dias ele falava muito nos avós e no carro da mãe (gosta muito de andar de carro), mas aos poucos habituou-se e agora já nem pede para ir à rua. Esta chuvinha também tem ajudado a não se ter vontade de sair de casa.

Stressava-me um pouco ele ver muita televisão e, fazer pinturas e trabalhos manuais pareciam-me boas ideias. Não foram! Ele não está habituado a essas tarefas e concentra-se pouco tempo nelas. Passados uns dias já nem se interessava minimamente quando sugeria fazermos alguma coisa. Confesso que ficava um pouco triste e preocupada, a pensar que o infantário teria feito diferença neste interesse (ou não, vamos lá saber...). Mas depois também comecei a ser mais pratica. Estamos numa fase diferente, isto não vai durar para sempre. Não vou estar a insistir em coisas que o deixam chateado e nervoso. Nos primeiros dias viu muita televisão, sim. Achei que regrediu na fala e tudo. Mas passados 3 ou 4 dias comecei a vê-lo a brincar mais, a inventar novas brincadeiras e a dizer novas palavras.

Comecei a incentiva-lo a fazer outras coisas:

- Ajuda a colocar os temperos na comida. Para além de adorar, começou a dizer novas palavras; alho, salada de alface, arroz doce...
- Coloco um alguidar com água morna e detergente, para ter espuma, e brinca com os carrinhos,
- Mudo o cantinho da brincadeira na sala, já teve a mesa com lápis e plasticinas, já teve a tenda com livros, agora tem só uma mantinha com carros e caixas que servem de garagem,
- Faz corridas pela casa,
- Brincamos às escondidas,
- Ajuda a limpar a mesa e as cadeiras depois das refeições.
- Vai buscar a pá quando vamos varrer.
- Faz recadinhos: coloca coisas que mandamos no lixo, vai buscar o telemóvel da mãe ou do pai, vai buscar os ténis x ou y (digo a cor para ele aprender e saber diferenciar), vai buscar os chinelos da mãe ou do pai... esse tipo de coisas. Ele fica satisfeito por saber fazer e nós achamos piada. Há dias disse-lhe para ir buscar os ténis azuis para irmos à rua. Demorou um bocadinho e eu pensei que não os encontrasse. Apareceu com os ténis calçados, fiquei tão contente!

O quintal seria uma boa opção para os dias de sol. Mas como é um quintal conjunto, os vizinhos andam por aqui e eu tenho receio. Até porque houve um dia que uma vizinha lhe deu um beijinho na testa e noutro dia, outra vizinha agarrou-o ao colo. Eu ia tendo um ataque de cada uma das vezes. Expliquei que não o podem agarrar, nem beijar, que temos de manter a distância, mas são situações que podem acontecer, e que eu compreendo que se esqueçam disso, mas em todo o caso tenho evitado irmos ao quintal para evitar estas situações.

Tenho tido alguns dias difíceis. Triste, ansiosa... Acho que a preocupação com o futuro é geral, não é? Para além disso tem sido muito difícil esta distância da família. Depois, como por regra não manifesto estas preocupações, e sou uma pessoa tranquila, quando digo que estou triste ou preocupada, acabo por preocupar todos à minha volta. Parece que é algo estranho! Ou seja, já nem me sinto à vontade para desabafar ou para ser sincera, porque não quero preocupar ninguém. Quando me sinto mais em baixo, medito. É a melhor solução de momento.

Sábado o Gonçalo faz anos, domingo é dia de Páscoa. Seriam dois dias de festa, onde estariamos todos juntos em família. Não vão ser! Tenho tentado mentalizar-me para isto, tem de ser assim. Não somos os únicos e é melhor estarmos separados agora e todos bem de saúde!

Feliz Páscoa para vocês! 😊
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