terça-feira, 12 de maio de 2020

TER SAÚDE FINANCEIRA COMO TRABALHADOR INDEPENDENTE

Vivemos um momento de crise económica. Talvez o pior esteja para vir, mas não há como negar que passamos todos por algumas dificuldades.

Não é a primeira crise económica que vivemos nem será a última. A vida é cíclica e estas crises vão e voltam.

Lembro-me de outras épocas de crise económica quando era miúda, de ouvir em conversas de adultos, mas desde que comecei a trabalhar, depois de terminar a licenciatura, esta é a segunda que passo.

Na primeira não tinha estabilidade profissional (muito menos económica) trabalhava há poucos anos, sendo a maioria dos anos passados em estágios obrigatório, não remunerados ou mal pagos, e passei por várias dificuldades. Serviram-me para aprender muita coisa. E agora, apesar da instabilidade que também atravesso profissionalmente, de não saber muito bem o que me reservam os próximos meses, posso dizer que me sinto muito mais segura.

Como trabalhadora independente não tenho, nas alturas normais, as "regalias" que outros trabalhadores têm. Não há subsídios de alimentação, férias, Natal. Não há ordenado quando não há trabalho, etc. Mas isso faz parte, e é algo que temos de aprender a contornar. Contornando isso em alturas boas, será muito mais fácil ultrapassar fases de crise.

A melhor forma de ter uma vida profissional estável, é consequentemente saúde financeira, é valorizando o nosso trabalho. É tornar o nosso trabalho valioso ao ponto de outras pessoas disponibilizarem-se a pagar pelos nossos serviços.

A meu ver, o primeiro passo é evitar ser aquela pessoa que aceita fazer qualquer coisa.
Há que ter plena consciência das próprias capacidades e das limitações, e quando uma pessoa se predispõe a fazer vários trabalhos, acaba muitas vezes por não dar conta do recado, correndo o risco de ficar conhecido por aceitar fazer tudo e nunca terminar, ou por fazer mal feito.

"Trabalhe para que os seus clientes o procurem por ser o melhor e não o mais barato."

Depois é cobrar um preço justo, tanto para o trabalhador como para o cliente. É aqui muitas vezes a porca torce o rabo. Não é fácil saber o valor a cobrar e muitas vezes as pessoas cobram o que outros colegas de profissão cobram.

O cliente, em principio, não está a pagar só pelo nosso trabalho. É preciso calcular todos os gastos inerentes ao nosso trabalho para que o valor seja justo, e não se caia no erro de cobrar 6 e depois gastar meia dúzia.

Há uns anos fazia a depilação das sobrancelhas e do buço numa esteticista que usava a técnica da linha. Um dia uma amiga minha foi comigo para ver como era o processo e ver se lhe interessava também fazer. Quando saímos da esteticista, a minha amiga comentou mais ou menos o seguinte: "Já viste quanto é que ela ganha? Cobra 8 euros e vai ali aos chineses comprar a linha por 2. O lucro que ela tem... Não gasta quase nada em material. "
Este pensamento é típico, a questão é que a esteticista não estava a cobrar só pela linha que gastava. Para me arranjar o buço e as sobrancelhas o que é que ela usava? Tinha um espaço que tinha de pagar, tinha a luz do teto, a luz com lupa (não sei o nome técnico) para ver os detalhes, tinha uma marquesa com papel descartável, que mudava a cada cliente, tinha um creme calmante para colocar depois da depilação e teve de aprender a técnica para poder fazer a depilação com linha, que provavelmente lhe custou dinheiro. Isto foi o mínimo que ela usou para realizar aquele trabalho. Se pensarmos assim, o valor não era justo? Tudo o que a esteticista usou teve de ser pago. Obviamente que vai ser pago pelo cliente, pois caso contrário não valia de nada a pessoa trabalhar.

Quando se cobra um preço abaixo do que é justo, acaba-se a dizer coisas do género: "Para o que ganho está muito bom", " Para o que pagam já faço muito". Isto não é um bom presságio e é quase certo que o negócio assim não vinga.

Por último e não menos importante, fazer os seus descontos. Tenho visto muita gente a queixar-se de não ter ajudas por parte da segurança social nesta altura. Mas são pessoas que não fazem descontos. É certo que há muita gente a receber indevidamente, etc, etc, etc. Mas nós temos de nos precaver. Ter atividade aberta, passar faturas e pagar as suas contribuições, é uma forma de termos também algum apoio por parte do estado quando precisamos. Se queremos ter direitos temos de ter obrigações.

Ainda há as questões óbvias, que são importantes para trabalhadores independentes ou não.

Ser pontual, sério, de confiança, dar a cara quando erra, fazer aquilo a que se compromete. São características que, de certeza, não trarão problemas e serão muito úteis em tempos de crise.



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