quinta-feira, 9 de julho de 2020

O DIA EM QUE O CORONA NOS BATEU À PORTA

(Post escrito a 1 de Julho)

O título já diz praticamente tudo, mas não se assustem, porque nenhum de nós ficou infetado.

Se estão a par das notícias, ou se vivem na zona, sabem que a Área Metropolitana de Lisboa teve um aumento significativo de casos positivos no último mês. Setúbal insere-se na AML, portanto estamos mais sujeitos a conhecer alguém que esteja infetado, ou mesmo, a sermos nós infetados.

Eu e o meu marido temos mantido uma postura, desde o início da quarentena, de muitíssimo cuidado. Evitamos ao máximo sair, só vou eu às compras, não bebemos cafezinho na esplanada como antes, não festejamos aniversários, desinfetamos tudo o que entra em casa, usamos a roupa uma vez e lavamos.

Andamos sempre com Álcool e usamo-lo vezes sem conta quando saímos. Mudamos muita coisa na nossa rotina, tudo porque achamos que esse é o caminho e a forma correta de fazer as coisas.

O Gonçalo está a precisar de roupa e calçado e eu ainda não tive coragem de ir às compras.

Não dou um beijinho, um que seja, aos meus pais, irmã e sobrinha há mais de 3 meses. O Gonçalo cumprimenta-os com um abraço a si mesmo e desde Março que não há um verdadeiro abraço.

Não vou visitar a minha avó ao lar, desde o início de Março. As visitas estiveram durante muito tempo suspensas, entretanto já houve visitas com marcações prévias, mas os donos do lar resolveram suspender novamente, e muito bem, devido ao aumento de casos nesta zona. Eu ia visitá-la para a semana e já não posso ir.

Estamos a precisar de várias coisas em casa (chávenas de café, colheres de café, facas de carne, fronhas de almofadas...) e aqui as lojas de decoração abriram há relativamente pouco tempo, mas nem me passa pela cabeça dirigir-me a uma para fazer compras.

Uma amiga até me convidou para dar uma volta nas lojas, e confesso que achei o convite absurdo. Noutros tempos era algo normal fazermos, mas agora não vejo qual era a necessidade de irmos as duas passear em lojas de decoração, ou do que fosse. Mesmo sabendo que o uso de máscara é obrigatório, que desifetam os cestos, etc... É algo dispensável, portanto não me faz sentido.

Já me perguntei várias vezes se tudo isto valerá a pena, se estaremos a exagerar, mas neste momento vejo que foi a melhor atitude a ter.

Já nos chamaram exagerados, "não é preciso tanto e vamos acabar todos infetados, portanto". Ouve-se de tudo. Mas como diz o ditado, os cães ladram e a caravana passa.

Há uma semana chegou a primeira pessoa com Covid-19 à empresa onde o meu marido trabalha. Não é da sua secção, o meu marido não teve contacto com ele, a probabilidade de estar infetado é mínima, mas é sempre um grande susto, uma grande aflição. Até à data não houve outros casos positivos, mas vão-nos chegando relatos de pessoas infetadas daqui e dali. A médica que falou com uma amiga nossa (quando se liga para a saúde 24 é feito um rastreio e passados 3 dias liga alguém da delegação de saúde da zona para tratar dos procedimentos) disse-lhe que Setúbal está numa situação caótica...

A festinha na Galé, ou Comporta como tem sido divulgado, deu nisto. Miúdos a irem com febre para lá (sem palavras...), miúdos a virem de lá doentes e a trabalharem no restaurante dos papás (ora na cozinha, ora no balcão, ora nas mesas...) miúdos a irem trabalhar para as lojas, e o belo do vírus a espalhar-se que nem gente grande. Afinal era no Norte que estavam as pessoas velhas e incultas e era essa a razão de lá existirem mais casos... Pois claro, como o Karma é lixado, cá estamos nós, os chicos espertos, jovens e com estudos a infetarem-se assim à grande e à francesa!

E o pior, o mais ridículo e revoltante, é alguém que tem taaannnto cuidado, que chegou a gastar 30€ de álcool num mês, que não dá um beijinho aos pais, que não deixa o filho com os avós, apanhar um susto por causa de gente irresponsável.

Eu sei, sei mesmo, que agora foi assim, mas poderia ter sido de outra forma qualquer, ou nem sabermos o porquê do susto. O colega do meu marido foi descuidado, no sentido de não se preocupar e achar que era exagero usar-se máscara no trabalho, por exemplo, mas teve um comportamento exemplar no sentido de assim que soube que tinha alguém próximo infetado, fazer o teste e informou a empresa ainda antes de ter o resultado. Por sua vez, a empresa teve uma postura que deixou muito a desejar, muito mesmo.

Portanto, não me venham com a conversa que quando isto terminar as pessoas serão mais amigas, ou que mundo estará melhor, porque não vai acontecer. As pessoas são mesquinhas, só pensam nelas e no próprio umbigo.

O melhor a fazer é ter todo o cuidado do mundo. Evitar riscos desnecessários. Não está tudo bem, não é um verão comum, não serão as férias que desejamos, e a coisa é grave.

Sinceramente não acredito que, por exemplo, as aulas comecem em Setembro de forma normal. Espero que até lá sejam pensadas outras medidas, que se inspirem noutros países, mas que não se caia no erro de fazer de conta que está tudo bem.

Por norma sou uma pessoa otimista, mas nisto não tenho sido. Ou melhor, não vejo as coisas tão cor-de-rosa como algumas pessoas. Sou da opinião que devemos ir voltando às nossas vidas (tem mesmo de ser, por todos os motivos), mas com precaução e principalmente, com respeito, que acho que é o que falta a muita gente.

Estou preocupada com o futuro, e sinceramente acho que o pior ainda está para vir. Só espero estar enganada!

(9 dias depois)

Como é perceptível pelo que escrevi, foram dias difíceis. Enquanto a delegada de saúde não contactou o meu marido, estivemos sempre em casa e mesmo o contacto entre nós foi muito reduzido.

Depois da delegada de saúde ligar, e de ter ouvido o meu marido, tirado todas as suas dúvidas e tudo mais, pudemos respirar de alívio, pois como era óbvio (por um lado) não havendo contacto próximo e/ou desprotegido com o colega, não havendo sintomas (febre, falta de olfato e/ou paladar, etc) e por terem passado mais de 10 dias depois do pouco contacto, não havia necessidade de fazer o teste ou de nos mantermos em casa. E de repente, a vida voltou ao novo normal.

Agora parece-me tudo muito distante, mas foram dias mesmo difíceis a nível psicológico. Felizmente não passou de um susto! Ufa! E o colega do meu marido foi um caso isolado, todos os testes deram negativo. Ele, segundo conta, está bem, apenas com sintomas leves.

Cuidem - se! 🙏🤗
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