sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

A ARTE DE ORGANIZAR A SUA VIDA - O CLIQUE QUE EU PRECISAVA


 Comprei este livro com algum receio de ser mais do mesmo. Tenho alguns livros sobre organização, principalmente da casa, e alguns são isso mesmo, mais do mesmo, sempre a mesma lenga lenga. Há outros que valem a pena e a esses até costumo recorrer quando preciso de alguma inspiração. 

Mas este livro insistia em aparecer em alguma parte, portanto li uma pequena parte no site da Bertrand e resolvi adquiri-lo.

Não é um livro de tópicos, ou de listas. É uma conversa. A autora vai falando, dando exemplos e explicando o método de organização que utiliza, o Dan-sha-ri.

Posso dizer-vos que houve aqui um clique.

 Como já partilhei inúmeras vezes, eu destralho com alguma frequência. Vou sempre vendo a minha roupa e a do Gonçalo e outros objetos que podem sair das nossas vidas. 

Mas fica sempre alguma coisa.

 As coisas do meu marido, também já referi, ele é que tem de destralhar. É algo comum a todos os livros e métodos, não temos o dever, nem o direito de destralhar coisas das outras pessoas. Do meu filho sou eu que faço, obviamente por ser criança. Mas das coisas do meu marido não trato, a não ser daquelas que estão mesmo com um pé para a cova e eu lá o convenço a desfazer-se daquilo. Por exemplo, há uns tempos tinha umas t-shirts para lá de velhas, com mais de 20 anos, todas esburacadas... eu já insistia há muito para as deitar fora, mas ele não queria porque eram de uma coleção de desenhos animados e tinham algum valor sentimental. Como não consegui que se desfizesse, consegui convencê-lo de que mantê-las não trazia benefícios para ninguém e que poderíamos dar-lhes uma nova vida. Portanto, cortei os desenhos e fiz uns quadros para o quarto do Gonçalo. Com o resto do tecido, fiz panos de limpeza...

Mas mesmo nas coisas que eu destralho, que são minhas, há sempre algo que fica. E normalmente qual é o pensamento que me leva a deixá-las: "ainda posso usar", "eu gosto, portanto um dia ainda vou usar", "posso voltar a precisar".

E o que acontece na realidade? Aquilo (seja roupa, calçado ou outro objeto) fica ali numa gaveta, não é usado, até chega a ser esquecido e não se passa para a frente. Depois fico com a sensação que não estou a fazer bom uso do objeto, mas pensar em desfazer-me também me leva a pensar que estou a desperdiçar. Cheguei ao ponto de não me desfazer de coisas por achar que estou a fazer muito lixo e que talvez consiga dar uma nova vida áquilo.

Depois não dou nenhuma nova vida e deixo as coisas estagnadas. E sou eu uma pessoa que destralha com frequência. Imaginem alguém que sente dificuldade em destralhar tudo.

Para terem uma ideia, tinha um relógio que a minha irmã me ofereceu quando eu terminei o curso de arquitetura. Era muito giro na altura e usei-o muito. Deixou de trabalhar, não era pilha e nunca resolvi o problema. Ficou anos numa gaveta sem trabalhar, e foi ganhando bolor (a bracelete tinha tecido) e eu não tinha coragem de jogar o dito relógio fora porque tinha sido um presente da minha irmã. Mas estava velho, bolorento e sem salvação, para quê guardá-lo? Só quando li este livro é que tive coragem de jogá-lo fora (neste caso não era possível dar ou vender, obviamente).

E porquê só agora, perguntam vocês?

Como disse atrás, antes tinha dificuldade em desfazer-me de algo porque pensava no futuro, talvez voltasse a precisar e usar, ou no passado, como no caso do relógio. Mas a autora deste livro diz que devemos pensar no presente. Na nossa relação com o objeto no presente. É tão óbvio, não é? 

Bastou pensar nisso. "Já usei, já gostei, mas agora, hoje, neste momento, não uso."

É tão simples quanto isto. Não uso agora, agora já não faz sentido manter. E na maioria dos casos, não uso agora, nem usei nos últimos tempos ou anos, e sei que não voltarei a usar. Manter porquê?

Comecei por jogar fora os relógios e bijuteria acabados, mortos, que tinha guardados. (E advinhem quem também tem vários relógios no mesmo estado guardados?).

Aproveitei a leva e escolhi roupa que também não uso. Umas coisas porque estão apertadas, outras porque já não são o meu estilo e outras porque a cor não me fica bem, pura e simplesmente isto. Há uma cor que gosto muito, um castanho caramelo, mas que não me favorece nada. Pareço 10 anos mais velha e com olheiras até à boca... não vale a pena manter coisas que não nos valorizam ou que não nos fazem sentir minimamente bem. 

Juntei tudo o que estava em bom estado, fotografei e publiquei no Facebook com a seguinte legenda: dou a quem quiser e vier buscar. 

Já foram!

As coisas em mau estado foram para o lixo.

E agora vou com tudo. Vou usar a mesma técnica para tudo em casa, à exceção das coisas do meu excelentíssimo esposo, e vou ficar mais leve, livre...

Além de coisas, neste belíssimo livro pode ler-se também sobre pessoas, sobre relações. 

E eu tenho andado nos últimos anos (desde que o Gonçalo nasceu, a bem dizer) com algumas amizades atravessadas. É isto, as pessoas desiludem-me, ou eu espero muito delas, não sei. Só sei que durante estes 5 anos e tal, tenho apanhado várias desilusões. Tantas, que cheguei ao ponto de já nem me sentir desiludida, porque já passou a ser normal.

Desde pessoas que leem as minhas mensagens (põem lá o "vista", não disfarçam) e depois não respondem, desde as que querem marcar qualquer coisa comigo a horas impossíveis para mim (e mesmo depois de eu o referir várias vezes), pessoas que me tinham muito em conta e de um dia para o outrodesapareceram do mapa, pessoas que insistem em marcar coisas e desmarcar em cima da hora, pessoas que desmarcam com as desculpas mais esfarrapadas que podem imaginar, pessoas que se atrasam sempre, pessoas que se lembram de mim só quando têm problemas e precisam de desabafar, enfim, podia continuar mas não é necessário. 

Isto levou a quê? A que eu perdesse a consideração por algumas destas pessoas. Com algumas perdi mesmo o contacto, com outras afastei-me, com outras usei a premissa de "na terra onde fores ter faz como vês fazer", mas com outras sinto sempre algum remorso quando penso em afastar-me. O que depois me leva a reconsiderar e desiludir novamente. Mas só o facto de me passar pela cabeça o afastamento, já diz muito, não é?

Lendo apenas umas linhas sobre relações neste livro, percebi que tinha de aplicar a mesma regra dos objetos: se a relação neste momento já não é boa, não existe confiança, mesmo sendo uma amizade, não interessa. No passado foi um boa amizade, mas mudou. Presentemente já nem se pode chamar amizade, portanto não há como manter. 

Não quer dizer que tenha de cortar completamente os laços com estas pessoas, mas deixar de me preocupar, sim, é algo que tenho de fazer. 

Não tenho de sentir a obrigação de manter contacto quando do outro lado não vejo esse interesse, ou só vejo de vez em quando! 

Além destes aspetos que fizeram mesmo um clique na minha pessoa, há muita coisa interessante. Está tudo interligado, vão-se repetindo pensamentos, opiniões e factos, mas foi de facto um livro que gostei de ler e ao qual pretendo voltar quantas vezes forem necessárias.





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