quinta-feira, 8 de junho de 2023

ESCOLA E DESENVOLVIMENTO - 1

 O presente post foi escrito em Abril e é o primeiro de uma série de posts sobre o desenvolvimento do meu filho Gonçalo. Partilho algumas das nossas angústias como pais e de alguns desafios que nos têm surgido, pois acredito que estas coisas têm de ser faladas. Há pais angustiados com questões do género, e se houver entreajuda é tudo mais fácil. Não procuro palmadinhas nas costas, nem coisas como "fazem bem ou fazem mal". É apenas uma partilha, que também servirá para nós daqui a uns anos consultarmos, e se Deus quiser, vermos que correu tudo bem!

 Se vos interessar, pretendo publicar um post por semana, sempre à quinta-feita. 

(post escrito a 22 de Abril de 2023)


Este ano foi o 1.° ano letivo do Gonçalo. Foi a primeira vez na escola, já que infelizmente no ano passado não teve vaga.

Sempre achei importante os miúdos terem pelo menos um ano de pré, para irem minimamente preparados para o 1.°ano do 1.°ciclo.

E quando digo preparados, não me refiro a saber ler, escrever, etc. Refiro-me ao estarem habituados às regras da sala de aula, saberem pintar, cortar com tesoura e usar minimamente os materiais escolares.

Sabia que muitas destas coisas seriam experimentadas pelo Gonçalo, pela primeira vez na escola. Sempre pintámos, sempre tentei fazer atividades "escolares" com ele, mas de forma muito descontraída, pois sempre achei que tinha tempo de aprender na escola, e que a altura era de brincadeira.

O Gonçalo entrou na pré no início do ano letivo, meio de Setembro, e o seu 1.° período foi muito instável, pois esteve doente muitas vezes. Portanto o 1.° foi praticamente passado metade em casa, doente, e outra metade na escola.

A meio do 1.° período enviei um email à educadora de infância para saber como estava a ser a integração do Gonçalo e o seu desenvolvimento.

Comecei aqui a perceber que nos esperava um ano letivo mais difícil do que tínhamos imaginado. 

Segundo a educadora, o Gonçalo não brincava com os colegas, preferia brincar sózinho com algum carrinho seu que levasse, não gostava de barulho, não cantava, distraia-se com muita facilidade e tinha necessidade de correr pela sala para se acalmar e quando tinha alguma tarefa para fazer, dizia sempre que não queria e só depois de ter ajuda de um adulto é que fazia. 

Ora bem, tendo em conta que Gonçalo tinha passado a sua vida a brincar maioritariamente sozinho, a ocupar o seu tempo com as suas brincadeiras favoritas e que durante aquele curto espaço de tempo ele já tinha faltado à escola umas semanitas, pareceu-me tudo normal. 

Ele sempre foi sociável, sempre brincou com outras crianças no parque, na praia, ou onde quer que fosse. Sempre que havia crianças para brincar, estar, conversar, ele nunca se mostrou "bicho do mato", portanto a questão da socialização nunca foi uma preocupação. 

Em casa sempre ouvimos música, mas nunca houve tendência para músicas infantis. Uma coisa levou à outra, nós não ouvíamos e ele não pedia, quando nós colocavamos ele não gostava. Portanto, cantar e dançar sempre fez parte da sua vida, mas não com músicas infantis. Assim, até me pareceu normal ele não achar muita piada a ter uma educadora e 19 colegas a cantarem músicas infantis. Mas pensei que fosse uma questão de hábito e mais tarde ou mais cedo ele se habituasse. 

A questão da distração e da necessidade de correr pela sala, também me pareceu normal. A distração por não estar habituado aquelas tarefas e a ter de estar um longo período a executar algo fora do normal (do seu ponto de vista, claro), a necessidade de correr é algo natural nele, sempre gostou de correr e é agitado, portanto estar muito tempo quieto é difícil. 

Houve questões que realmente achei normais para ele, para o tempo que tinha de escola e todo o panorama.

Sempre que perguntava se ele se portava bem, a resposta era afirmativa. Nunca houve uma única queixa durante o 1.°período.

No início do ano letivo eu tinha pedido uma avaliação com a terapeuta da fala do agrupamento da escola dele (por causa da questão do r). Essa avaliação foi feita logo no início, cerca de um mês depois das aulas começarem, mas só na reunião de pais no início do 2.° período é que tive acesso ao relatório da terapeuta.

Aqui comecei a ver a minha vidinha a andar para trás. 

Primeiro o relatório estava confuso, tão depressa dizia uma coisa como dizia outra. 

A questão do r não era motivo de preocupação, pois estava dentro da faixa etária dele, logo não havia indicação para terapia da fala, mas havia uns quantos problemas, nomeadamente de socialização e de choro quando não se conseguia fazer entender. Coisa que, amigas, não faz nada o género do Gonçalo. Se há coisa que ele sabe fazer, é explicar-se. 

A esse relatório, juntava-se também a avaliação da educadora, que mantinha as questões já referidas no email, mas que acrescentava que o Gonçalo se tinha habituado bem ao jardim escola, que tinha conhecimentos acima da média em certos assuntos e que usava adjetivos e um vocabulário rico para a idade. Referia ainda que quando ele não conseguia autorregular-se que chorava.

Tanto a educadora como a terapeuta recomendavam uma consulta de desenvolvimento para despiste.

Portanto, tanto a questão de chorar quando não o entendiam, como o chorar por não se autorregular foram uma completa novidade para mim, pois nunca houve referência a isso, nem sequer quando eu perguntava. 

No dia que recebi o relatório e a avaliação pedi uma reunião com a educadora e com a terapeuta da fala. Reunião essa que veio a acontecer 1 mês e pouco depois.

Para bom entendedor meia palavra basta e eu consegui perceber logo que havia ali uma sugestão de autismo: não interage com os pares, não se autoregula, chora, interessa-se demasiado por certos temas e mostra desinteresse noutros, etc.

Lá fui para a reunião com uma série de perguntas na manga e a primeira foi logo: sendo uma criança que está a ter a primeira experiência em ambiente escolar, que esteve doente várias semanas, esta avaliação não terá sido precoce? Não será normal ele estar ainda a ambientar-se?

Segundo a terapeuta, não. Não tinha nada a ver com isso, até porque todas as semanas o observava e não via melhorias. Mas, deixou claro, não era a sua área, logo era apenas uma opinião. 

A terapeuta mostrou-me os testes dele, e até eu fiquei surpreendida com certas coisas. Segundo ela, o Gonçalo tem um vocabulário de uma criança de 8 anos, apesar de não dizer bem todas as palavras, expressa-se muito bem (coisa que no relatório não estava explícita, nem sequer implícita), no entanto nos testes de socialização (por exemplo, uma imagem com alunos numa sala de aula, e a terapeuta pergunta o que o menino que chega atrasado diz à professora, ou o que é que o menino que fez um castelo pergunta ao colega) ele não soube responder e começou a falar de coisas que não estavam relacionadas com a imagem. 

A educadora voltou a frisar o facto de ele não brincar com os colegas, de não saber o nome de todos, de chorar por causa do barulho e de não olhar nos olhos, e perguntou se eu já tinha reparado nisso.

A questão de não olhar nos olhos deixei logo claro que não era verdade. Ele olha nos olhos, aliás, isto é uma pergunta que os pediatras fazem muito e também observam muito nas consultas. Se isso acontecia, possivelmente era por vergonha da parte dele. O que também me parece normal. A vida dele mudou radicalmente, passou de uma criança que estava com meia dúzia de pessoas diariamente para alguém que está numa escola de 1.° ciclo com largas dezenas  de pessoas.

Voltou à baila a consulta de desenvolvimento, que eu referi que íamos fazer. E pôs-se então os pontos nos is, dizendo-me que achavam que ele seria autista. Num grau leve, que era muito inteligente, mas que a socialização indicava que havia qualquer coisa.

Ainda perguntei se achavam que a distração e necessidade de correr não estaria relacionado com TDAH (transtorno défice de atenção e hiperatividade), mas achavam que não. Era autismo, ponto acente.

Bem, confesso que nem era o facto de ser ou não autista que me preocupava. Preocupava-me se havia dificuldade de aprender, se havia demasiada desatenção, desinteresse, etc.

Todos sabemos que, infelizmente, a escola na maioria das vezes não está preparada para crianças com dificuldades, sejam elas quais forem. Estamos a melhorar, mas longe de estar bem. E depois cada escola é uma escola, e cada professor é um professor. Comecei a estar muito preocupada com o 1.°ano.

Comecei a ver pediatras de desenvolvimento aqui em Setúbal, tentei perceber o que me interessava mais. 

Demorei um pouco, mas acabei por me decidir por uma pediatra de quem já tinha referências.

Mas estas coisas não acontecem de um dia para o outro e só consegui consulta para um mês depois.

No meio disto, entre a reunião e a consulta de desenvolvimento houve um acontecimento que veio agitar muito às águas. 

Mas ficará para um próximo post, pois este já está enorme! 

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