quinta-feira, 15 de junho de 2023

ESCOLA E DESENVOLVIMENTO - 2

 (Post escrito a 26 de Abril de 2023)

Quando tudo parecia estar a entrar nos eixos, reunião feita, consulta marcada, o Gonçalo começou a ter um comportamento estranho na escola.

Um dia de manhã a educadora disse-me que no dia anterior ele tinha estado muito agitado. E no dia anterior, tinha sido a minha sogra a ir buscá-lo, e tinha dito que ele vinha a chorar.

Nós falámos com ele para percebermos o porquê do choro e ele disse-nos que chorou porque não estava a conseguir vestir o casaco. 

Quando a educadora me diz que esteve agitado eu associei a essa birrita no fim do dia. Mas não. Tinha sido o dia todo a chorar, a gritar e a reclamar com os colegas.

Eu fiquei surpreendida, já que ele não costuma ter este comportamento. Faz birras sim, tem os seus momentos de teimosia, mas nada de transcendente. 

Mas pensei que tinha sido um episódio isolado, afinal todos temos dias maus.

No dia seguinte, a mesma história, e no seguinte e no seguinte...

A educadora pouco falou comigo nestes dias, mas a auxiliar ia-me dizendo que ele fazia grandes birras sempre que era contrariado. 

À segunda-feira a turma tem outra educadora. Que por acaso, sempre referiu algo que me deixava com a pulga atrás da orelha: "O Gonçalo comigo, comigo (reforçava sempre o comigo), porta-se lindamente."

E isto levava-me a pensar, "porta-se bem consigo e com a outra educadora não?!"

Mas lá está, como não havia queixas até então, eu ía relevando.

Até que eu comecei a perceber que à segunda nunca havia birras, nem queixas, nem teimosias. Com a educadora de segunda, corria sempre tudo bem, o Gonçalo portava-se bem e fazia sempre todos os trabalhos. 

Numa terça-feira, depois de uma segunda sem qualquer queixa, e novamente com a conversa de "ele comigo porta-se lindamente", assim que entrámos na sala o Gonçalo começou a gritar com os colegas que estavam a brincar com uns carrinhos.

A auxiliar da sala tinha levado uma caixa de carrinhos uns temps antes, e como o Gonçalo é apaixonado por carros, aqueles passaram a ser o seu brinquedo favorito da sala. Não sei porquê, a determinada altura ele começou a achar que só ele é que brincava com os carros e sempre que algum colega tirava um carro da caixa, era um escândalo. 

Nesse dia, aconteceu assim que entrámos na sala. E eu vi o meu filho de uma forma que nunca tinha visto antes. Ele gritava imenso, corria pela sala e via-se que alguns colegas estavam assustados.

Eu agarrei-o e sentei-me a conversar com ele. Enquanto todos os meninos se afastaram, as meninas aproximaram-se de nós e fizeram uma rodinha à nossa volta (O instinto maternal é aquela coisa...). Enquanto eu ia falando com ele e dizendo que os carros não eram dele e que todos podiam brincar com todos os brinquedos da sala, as meninas iam também dando conselhos e falando com ele (tão fofas!!!).

Nesse dia a educadora mostrou-se também muito nervosa, preocupada e ao mesmo tempo sem perceber porque é que no dia anterior, com a outra educadora, tudo tinha corrido lindamente, e com ela havia este comportamento. 

Nesta altura comecei a fazer perguntas a toda a gente, como quem não quer a coisa.

Percebi então algo muito grave. O Gonçalo, com a educadora principal, só trabalhava quando queria. Se quisesse ficar a brincar, ficava, se não quisesse participar numa atividade, não participava, e por aí. 

Portanto, a evolução que era suposto existir, não aconteceu. E depois quando se tentou que ele participasse e trabalhasse, ele começou a fazer birras, porque não queria trabalhar, queria apenas brincar.

Se não fossem estas birras, possivelmente, eu não saberia disto. 

Mas, eu andava desconfiada que havia qualquer coisa de errado.

Houve um dia que a educadora me enviou um vídeo de uma aula de música. A turma estava toda sentadinha, a ouvir o professor e a fazer o que este mandava. Mas o Gonçalo não. E porquê? Porque não quis... então, enquanto os outros estavam a cantar e fazer sons, o Gonçalo andava a passear-se pela sala como se nada fosse.

Nós falámos logo com ele sobre isto, e dissemos que ele tinha de participar tal como os seus colegas. No dia seguinte eu pretendia falar sobre isto com a educadora, mas não a encontrei, então disse só à auxiliar.

Passado um tempo é que falei com a educadora sobre isso e ela garantiu-me que o Gonçalo depois acabou por participar e até soube fazer as coisas (como se fosse algo anormal).

Uma coisa levou à outra e comecei a ver que havia um tratamento diferente com o Gonçalo. Houve também outro vídeo, em que estavam todos a fazer uma espécie de desfile na sala e o Gonçalo estava a brincar. A meio do desfile outra menina achou que devia de ir brincar com o Gonçalo e foi repreendida, mas ele não. 

A esse vídeo eu respondi "Estão todos os colegas a participar e o Gonçalo a brincar na cozinha?!?!"

Ao que a educadora respondeu qualquer coisa com emojis, que confesso, não entendi o significado. 

Comecei a ver que ele estava a ser tratado de forma diferente e comecei a dizer que não queria que tal acontecesse. Não havia motivo para isso. Em casa há regras e na escola faz o que quer? Tentei sempre ser assertiva, dizer o que tinha de dizer sem ofender ninguém, mas fui clara em dizer que se as birras e mau comportamento só aconteciam com uma educadora, era porque algo estava mal. O Gonçalo não podia achar que mandava e a educadora tinha de se impor. 

Fui chata. Tive uma altura de enviar todos os dias mensagem à educadora para saber como é que tinha sido o dia. Portou-se bem, participou, fez os trabalhos...?

Agora vocês perguntam-me porque é que houve este tratamento diferente e eu não sei bem.

Acho que tudo começou com a ideia de que ele era autista. Acredito que a senhora achou que estava a fazer o melhor, porque achou que ele era diferente. E isto, apesar de ser com boa intenção, é mau, é muito mau.

Mesmo que existisse um diagnóstico de autismo não era razão para ele não participar nas atividades da turma. Muito pelo contrário, acho que nesse caso até tinha de haver mais atenção com a criança. 

Chegado o dia da consulta, lá fomos nós. 

Conto tudo no próximo post! 

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