quinta-feira, 6 de julho de 2023

ESCOLA E DESENVOLVIMENTO - 5

 A opinião dos outros

Nesta jornada têm surgido algumas opiniões, como é normal nestas coisas. E apesar das nossas decisões não se terem baseado nas opiniões alheias, a não ser dos profissionais envolvidos, também não nos passam despercebidas. 

Primeiro de tudo, não tem sido um assunto que tenho falado com muita gente, a não ser quando surge algo que o justifique. Depoos, as poucas pessoas com quem tenho falado, são pessoas de alguma forma próximas e que simplesmente não opinam. Mas mesmo assim há sempre perguntas. 

No geral, as pessoas acham que estes "problemas" são coisas inventadas por professores e médicos. Acham que são males menores e que antigamente iamos todos para a escola sem saber ler nem escrever.

Também há quem ache que isto é mariquice e que cada criança tem o seu tempo, que é como quem diz, sempre houve miúdos burros.

Depois acham que os médicos fazem diagnósticos deturpados para ganharem muito dinheiro às nossas custas.

Há ainda quem ache que isto passa. E também quem ache que se ficar mais um ano na pré, vai ficar atrasado.

Nós, como pais, achamos que é melhor ele "perder" um ano agora do que no futuro.

É preferivel ficar mais um ano a amadurecer e a criar hábitos de trabalho, pois mesmo que cheguemos à conclusão que ele deveria ter ido para o 1°ano, ele irá logo no ano seguinte. Portanto, "perdeu" apenas um ano. Por outro lado, se for para a primária, e começar logo a "patinar" (quer queiramos ou não, é o que vai acontecer se for já para o 1°ano) até endireitar-se e apanhar o barco, vai demorar. Vai ser a cauda da turma, o miúdo que nunca apanha tudo e que vai andar atarantado, desmotivado e desinteressado. Só de imaginar esta situação, eu fico emocionada.

Há também a questão de eu dar explicações. Se para algumas pessoas isso é sinónimo de ter um filho com sucesso escolar, para mim é sinónimo de discernimento. Eu conheço miúdos como o Gonçalo. Há uns anos, eu tive um explicando que era "o Gonçalo". Um miúdo inteligente, com uma conversa muito diferente dos colegas (tinha vários da mesma turma), parecia mais velho que os outros em certos aspetos, mas odiava a escola. Tudo o que envolvesse matéria, ele não gostava. Fazia por obrigação, e se entendesse que não fazia, era muito difícil fazê-lo mudar de ideias. 

E tenho acompanhado várias crianças que tenho a certeza, teriam beneficiado com mais um ano de pré. 

Olhando para o Gonçalo agora, vejo uma criança que ainda quer muito brincar. Que não está muito virado para o trabalho, mas pior do que isso, vejo uma criança com dificuldade em concentrar-se.  Vejo uma criança que começa as coisas mas não as termina, que perde o interesse com muita facilidade e que se distrai com mais facilidade ainda. Vejo uma criança que precisa de alguém a trabalhar com ela, que tem de ter muita supervisão. 

Tudo isto requer tempo e disponibilidade de um professor. Esse professor terá pelo menos outras 20 crianças. Algumas com as mesmas dificuldades do Gonçalo, e outras com mais dificuldades. Todas elas, até as que não têm grandes dificuldades, precisarão de atenção, e uma pessoa sozinha não consegue milagres.

Nas alturas em que o professor estará a dar atenção a outros miudos, o Gonçalo, provavelmente, irá levantar-se e correr pela sala. Ou vai querer brincar com um carrinho, ou algo do género. 

Como é que uma criança com grande dificuldade em concentrar-se vai estar sentada horas a aprender e a fixar matéria que servirá para avaliar o seu desempenho?

Ah, mas há tantas crianças assim...

Pois há, e muitas só teriam ganho se fossem mais tarde para a escola.

O problema será resolvido com a entrada na escola mais tarde?

Possivelmente não. Há muito trabalho a fazer. A questão é que esse ano ajudará. O tempo ajuda, e nós precisamos de tempo. Se não conseguirmos o adiamento, será outra corrida contra o tempo. Teremos de fazer tudo, mas a correr... nem quero pensar. 

Também houve alguém que me disse que acha que o problema do Gonçalo é mimo, que é o tradicional filho único... 

O Gonçalo é uma criança mimada, sim. Há muita coisa que não devia de acontecer e acontece. Eu e o pai ralhamos e os avós ficam amuados porque ralhamos com o menino. Nós dizemos que não queremos que ele faça algo e um dos avós faz-lhe a vontade. Eu digo que não lhe compro um carrinho e no dia seguinte um avô compra...

Mas não é este o problema! Se fosse só o mimo, não me preocupava. A questão da concentração não tem nada a ver com o mimo, não tem a ver com o ser distraído ou cabeça no ar.

Há aqui muito para nos preocupar e definitivamente a opinião dos outros, tem de ser só a opinião dos outros. 

Aqui tentamos fazer o melhor pelo nosso filho!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Sem comentários:

Enviar um comentário