sábado, 16 de março de 2024

PHDA - PORQUÊ MEDICAR?

 O assunto da medicação na PHDA, ou na PEA, ou noutra perturbação qualquer, é muito controverso.

Há uma espécie de estigma em relação a este assunto e há muita, muita, muita desinformação. 

Também quero falar sobre isso, mas ficará para outro post, para não tornar este aiiiinnnda maior (como se eu escrevesse posts pequenos...).

A opção de medicar ou não, é pessoal, cada caso é um caso e cada família/médico deve fazer as suas opções em consciência tendo em conta a criança (vou focar-me nas crianças, os casos em adultos envolvem outras condicionantes).

No início, quando começámos as consultas de desenvolvimento, eu tinha as minhas reservas relativamente à medicação. Estava pouco informada sobre o assunto e tinha muito na cabeça as questões que costumam ser levantadas nesta fase: a criança fica drogada, fica apática, as crianças precisam do seu tempo, as crianças precisam de movimento, de correr e de brincar, etc.

Mas na altura da avaliação de pré-requisitos percebi a dificuldade que o Gonçalo tinha em estar concentrado, nem que fossem 10 minutos seguidos. Ele não conseguia estar quieto, concentrado e a fazer um simples exercício. Precisava de ajuda constante. Constante mesmo, eu, ou a terapeuta, tinhamos de repetir várias vezes a mesma coisa, pedir-lhe para sossegar, e ajudá-lo com coisas mínimas, porque a concentração era pouquíssima. 

Agora imaginemos este panorama numa sala de aula. 

Qual é o professor que tem disponibilidade para estar sentado com uma criança a ajuda-la em tuuuuudo? 

Qual é a criança que nestes termos vai memorizar alguma coisa? 

Qual é a criança que vai gostar da escola com um dia-a-dia assim? 

Qual é a criança que vai achar que tem capacidades para aprender, para fixar e para ser bom aluno? 

Qual é a criança que vai conseguir estudar em casa sem ajuda? 

Qual é a criança que vai conseguir fixar matéria para um teste? 

Qual é a criança que não vai achar-se menos capaz do que os colegas percebendo que tem de ter ajuda para tudo?

Digam-me. O que acham que acontece com as crianças que simplesmente não se concentram e que precisam de correr para se acalmarem? 

Eu digo-vos o que acho, e o que sei que acontece em muitas escolas: são burros, são mal educados, são estúpidos, os pais não querem saber, nunca vão ser nada na vida, não vale a pena ensinar porque não vão aprender, etc, etc, etc.

Supostamente, segundo o Decreto-lei 54/2018, os alunos que necessitem de apoio têm de ter o acompanhamento de um professor de ensino especial durante as aulas. Ora bem, sabemos todos muito bem, que isso não é possível, pelo menos na escola pública. 

Dou explicações a uma menina que também tem PHDA, e que anda num colégio privado. Tem essas "regalias" e não é medicada. Até aqui tudo bem. A minha questão é que a menina não faz nada sozinha. Além das dificuldades que tem, ela própria acha que não consegue fazer nada sem ajuda, ou acha que as outras pessoas (eu, professores, pais) têm obrigação de a "ajudar" (fazer por ela).

Pergunto-me se neste caso não seria preferível medicar e dar alguma autonomia à miúda? Eu acho que sim. Mas a menina não é minha filha, logo eu nem opino sobre isso. Estou aqui apenas a partilhar. 

Voltando ao meu filho. Durante o processo de exames e consultas, pesquisei sobre o assunto. E no meio de muita coisa que não interessa, encontrei muitas opiniões de médicos, que me levaram a mudar de opinião. 

Foquei-me nas opiniões de especialistas da área (pediatras de desenvolvimento, neuropediatras e pedopsiquiatras) e a opinião é unânime, a medicação faz toda a diferença. 

Numa dessas pesquisas encontrei uma conferência com o Dr. Nuno Lobo Antunes que fez toda a diferença e onde percebi muito bem os riscos de medicar e os de não medicar.

Também houve uma conversa com a técnica que fez os exames auditivos ao Gonçalo, que me ajudou. O seu filho também foi diagnosticado com PHDA, é seguido pela pediatra de desenvolvimento do Gonçalo e está medicado. Segundo a mãe, o miúdo melhorou bastante na escola com a medicação (é inteligente mas não gostava da escola) e mesmo ele dizia que se sentia melhor com a medicação, além do seu dia-a-dia ter também melhorado.

Esta conversa/partilha, de mãe para mãe ajudou-me muito.

Decidimos então medicar e nunca cheguei a questionar a médica sobre isso.

O Gonçalo iniciou a medicação em Novembro e a médica avisou-nos que nas primeiras duas semanas não notariamos praticamente diferenças. 

Assim foi, mas no final das duas semanas já notávamos. O Gonçalo estava mais calmo, não havia tanta impulsividade, concentrava-se durante mais tempo, ouvia-nos mais, aceitava melhor o "não"... foi uma mudança gradual mas bastante significativa. 

Na escola também nos iam dizendo que notavam melhorias. 

De início notámos alguns efeitos negativos, como menos apetite e dificuldade em adormecer. Adormecia mais tarde, acordava mais cedo e dormia mal durante a noite. Aos poucos isso foi melhorando e de momento come e dorme bem! 

Ele, apesar da sua imaturidade, também percebe que o comprimido o ajuda. Logo no início eu expliquei-lhe que tinha de tomar um comprimido todos os dias porque o cérebro dele não produzia uma coisinha necessária para estar mais calmo e concentrado. Ele entendeu, dentro das limitações da idade, e nunca se esquece de tomar o comprimido. Há dias que diz que não quer porque é aborrecido, mas na maioria das vezes fá-lo naturalmente. 

Já lhe perguntei se ele se sente diferente, e ele diz que sim, que está mais concentrado e não se irrita tanto. Já chegou a perguntar-me porque é que no ano passado fazia birras na escola e porque é que gritava, portanto nota diferenças entre uma altura e outra.

Eu sempre gostei muito de legos e comprei-lhe alguns quando era mais novo. Ele nunca ligou muito. Agora adora legos. Já compramos alguns, a minha irmã também lhe ofereceu e ele dedica-se bastante tempo a montar. Tem alguns técnicos, que são específicos para alguma coisa, mas ele consegue seguir bem as instruções e montar. Tem uns de 7 anos em que precisa de mais ajuda, mas os de 5 e 6 anos já monta sozinho e alguns até já monta sem as instruções. 

E porque houve esta mudança? A meu ver foi o facto de conseguir estar concentrado que fez a diferença, e isso foi possível graças à medicação!

Em Portugal, o tratamento farmacológico para a PHDA passa pela medicação psicoestimulante e temos ao nosso dispor duas opções: o metilfenidato e a lisdexanfetamina.

Existe ainda a atomoxetina, que não é estimulante, mas também está aprovada para a PHDA. É mais usada em pacientes que não respondem bem, ou têm contraindicações para o uso de psicoestimulantes.

No metilfenidato temos o Rubifen (medicamento que o Gonçalo começou a tomar, mas que de momento está esgotado), Ritalina, Concerta e genéricos.

Estes medicamentos demoram cerca de 20 a 30 minutos a começarem a fazer efeito e conoante o medicamento, a duração do efeito é de 3 a 5 horas ou de 8 a 12 horas.

Na Lisdexanfetamina temos o Elvanse (será o medicamento que o Gonçalo começará a tomar, caso o Rubifen não deixe de estar esgotado entretanto). Demora entre 1 a 2 horas a fazer efeito e a duração é de cerca de 12 horas.

Segundo o pediatra Ruben Rocha "A medicação tem como objetivo repor níveis de neurotransmissores (dopamina, noradrenalina) em determinadas área cerebrais (...) muito relacionadas com funções executivas e inibição de impulsos, que se sabem estar em défice nestas crianças. A sua eficácia e segurança estão largamente comprovadas em mais de 60 anos de utilização regular e contínua em todo o mundo."

Portanto, nada disto é novo, nem a PHDA, nem a medicação. 

Claro que a medicação por si só não resolve o problema e por isso, também é unânime estre os pais e especialistas, que as terapias são essenciais para o desenvolvimento de crianças com PHDA. 

No caso do Gonçalo ele faz psicomotricidade quinzenalmente, mas só o tempo poderá dizer que outras terapias poderá, e deverá fazer.

O desporto também é extremamente importante, mas isso é para qualquer ser humano, certo?

Nós pretendemos colocá-lo num desporto, não por achar que ele precisa de gastar energias (com ou sem desporto ele gasta bastante, nunca foi problema) mas por uma questão de aquisição de novas regras e hábitos. De momento não é a nossa prioridade, e dadas as circunstâncias, preferimos investir na psicomotricidade e na terapia da fala, que pretendemos iniciar brevemente. 

Outra questão que acho que faz toda a diferença, é o básico bem feito. Não nos adianta de muito medicar e fazer terapias se depois outras questões ficam em segundo plano. 

A hora das refeições, hora de acordar, hora de dormir, a rotina antes de dormir, a rotina quando acorda, as conversas com os pais, a rotina das refeições, a brincadeira livre, a brincadeira com os pais, a leitura de histórias, a conversa/ interpretação dessas histórias, brincar na rua, pisar a areia, pisar a relva, a boa alimentação, ouvir música, falar sobre música, não estar muito tempo com ecrãs, pintar com as mãos, moldar com as mãos, estimular a criatividade, fazer jogos, as brincadeiras que promovem a concentração (Legos, por exemplo), tudo isso faz diferença no desenvolvimento de qualquer criança, logo, numa criança com PHDA não será diferente.

Caso tenham perguntas, não hesitem em fazê-las. 

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