Depois da reunião que tive com a professora do Gonçalo, no dia 11, as coisas começaram a melhorar.
Houve várias questões que a meu ver, não ajudaram logo de início.
- A professora ficou com duas turmas de anos muito diferentes, 1° e 4°, e andou um pouco atrapalhada. A juntar a isso, foi uma mudança grande para ela, escola nova, sistema novo, novas responsabilidades, já que ficou também com a coordenação da escola. Parece-me que não se organizou suficientemente bem e rápido logo de início.
- Não leu o processo do Gonçalo, onde tem toda a informação existente desde que entrou na Pré: avaliações das educadoras, relatório da terapeuta da fala, relatórios da psicomotricidade, planos de intervenção da psicomotricidade (onde tem muitas estratégias para se lidar com os problemas que vão surgindo), relatórios da pediatra de neurodesenvolvimento, RTP (relatório terapêutico pedagógico, que no caso tem 2) medidas seletivas, relatório da EMAIE... enfim, está lá tudo o que é necessário para perceber o seu desenvolvimento além de ter as medidas a serem aplicadas neste ano letivo. Como não leu, não começou logo a aplicar essas medidas.
- A falta de conhecimento levou a falhas, obviamente.
- Focou-se muito na questão do autismo, achando que o Gonçalo teria problemas idênticos a alunos seus de anos anteriores. Felizmente não é o caso, no entanto, essas diferenças levaram a alguma dificuldade em perceber as características dele.
- Desconhecimento em relação ao que é a PHDA, "problema" principal do Gonçalo. Por exemplo, achar que a medicação para a PHDA é muito forte e que por isso ele fica mais lento em relação aos colegas. Quando é precisamente o contrário, se não fosse a medicação ele não estaria sequer sentado. E se tivesse lido as avaliações das educadoras de infância, teria percebido essa mudança no seu comportamento, há dois Gonçalos, o de antes do diagnóstico e da medicação e o de depois.
- Comparar o Gonçalo com os colegas. Todos eles são diferentes, todos têm as suas dificuldades, as suas preferências, etc. Já é mau fazer comparações entre crianças que estão no mesmo patamar, fazer comparações entre crianças que têm necessidades educativas especias e que não têm, ainda é pior. Além de ser mau por várias razões, para o próprio professor é frustrante pois não vê equidade no desenvolvimento da turma.
Todas estas questões foram faladas na reunião. Eu gosto de pontos no is, não gosto de dúvidas.
Logo na primeira reunião com os pais, na apresentação, digamos assim, quando falei do Gonçalo e coloquei algumas questões, a professora falou na reprovação. Que no 1°ano não podia reprová-lo, mas no 2° já podia.
Nesta reunião individual, voltou a falar disso e eu fui clara: o trabalho que temos feito com o Gonçalo, o acompanhamento que ele tem a nível médico-terapeutico e o adiamento que fizemos para o 1°ano, são para o ajudar a desenvolver bem e para evitar que seja reprovado.
Eu nem penso nisso, o meu objetivo é que aprenda bem e desenvolva, não estou a pensar que tenho de evitar uma reprovação de ano, ou que a reprovação será uma solução caso não evolua. Isso nem é tema!
Depois levantou-se outra questão: o Gonçalo é mais demorado que os colegas, mas trabalha duas manhãs por semana sozinho com uma professora de ensino especial.
Trabalha bem com essa professora? Sim, trabalha.
Então se está a trabalhar com outra professora, enquanto os colegas também estão a trabalhar, é natural ele ter fichas diferentes dos colegas.
Se os colegas têm 20 fichas numa semana, mas o Gonçalo não teve 2 manhãs com eles, é natural não ter todas as fichas.
Mas se trabalhou com outra professora, então terá fichas dessa professora. No fim de contas, está a exigir-se que ele faça mais fichas do que os colegas, pois faz as da professora de ensino especial e tem de fazer as da professora principal, enquanto os colegas fazem só as da professora principal... Não estará aqui qualquer coisa mal?
Que tal haver mais planeamento entre as duas professoras?
E teremos de perceber as prioridades, certo? É mais importante ele fazer um grande número de fichas, e acabar chateado e desinteressado, ou é melhor fazer menos, mas com atenção e ir assimilando bem a matéria?
Para mim é óbvio.
Até porque houve um dia desta semana em que o Gonçalo trouxe o caderno de uma colega por engano. Como eram iguais eu também não reparei e abri-o. E notei que além da menina ter menos coisas no caderno (já que a maioria do que ele tem é feito com a professora de ensino especial) também tem pior apresentação. Ele tem uma caligrafia bonita e tem tudo limpinho, a menina não tinha, pelo menos no caderno. E isto leva-me a perguntar, afinal é mais importante a quantidade ou a qualidade?
Voltanto à reunião...
Decidiu-se também, que à sexta a professora manda os manuais para casa, para eu ver e também para fazermos páginas que ele não fez, por estar onde? Com a professora de ensino especial.
A professora até referiu que não era necessário fazer tudo, porque já tínhamos chegado à conclusão (óbvia) de que fez outros exercícios, possivelmente mais adequadas às suas dificuldades. E disse também, que não queria que eu ficasse sobrecarregada a fazer trabalhos com ele. Ao que eu respondi: "a minha vida é isto. Eu dou explicações, isto é o meu dia-a-dia com os filhos dos outros. Ele é meu filho, nem me passa pela cabeça não fazer! Vamos fazendo com calma."
Portanto, na semana passada trouxe várias páginas de português para fazer, e o que é que constatei? Que ele tem muito mais interesse no manual do que nas fichas soltas!
E porquê?
Eu acho que são mais apelativas (têm cores e as fichas são a preto e branco), têm vários exercícios diferentes numa página, os exercícios são mais curtos, logo mais rápidos de fazer. Portanto ele não fica logo desmotivado assim que vê o trabalho que tem pela frente, enquanto que com as fichas, desanima logo de início!
Tudo isto são aspetos a ter em conta. E temos de usar as armas que temos em nosso benefício. E não o contrário!
No meio disto tudo, o que é que eu vejo de bom e acaba por me tranquilizar.
- Temos um bom acompanhamento com a terapeuta, que nos ajuda bastante com estratégias para o motivarmos.
- Temos um bom ambiente familiar, tanto na nossa casa, como no núcleo familiar próximo. Isso ajuda bastante no equilíbrio de tudo.
- Temos rotinas bem definidas, fazemos alterações quando necessário, mas falamos muito disso com o Gonçalo. Sempre notámos que ele responde bem a uma rotina bem definida e usamos muito isso! Eu também preciso de rotinas, por isso não é difícil!
- Conversamos com ele e ele percebe. Portanto há muito a conversa sobre a importância da escola, a importância das regras, a importância de trabalhar e de aprender, a importância da professora, a professora é que manda e temos de respeitá-la sempre, ensinamos-lhe sempre a importância de ser bem educado e respeitar os colegas, professores e auxiliares, etc. São conversas constantes nos nossos dias, principalmente na hora do jantar.
- Todos os dias, quando o pai se despede dele diz-lhe para trabalhar na escola e portar-se bem, eu quando o deixo na escola volto a repetir, e ele vai percebendo. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
- Quando tudo corre bem, há recompensas. Por exemplo, na escola, quando ele trabalha bem a professora envia-me uma foto e diz-lhe. Ele fica muito orgulhoso. Em casa, se ele se portar bem durante o dia, à tarde quando chega a casa e depois tomar banho, pode jogar consola até ao jantar. Depois do jantar não se joga, mas estuda-se um pouco. Se estudar e fizer as tarefas bem feitas, no dia seguinte pode jogar novamente à tarde. Ele já sabe como funciona e respeita. (Quem diz jogar, diz outra coisa que goste. Neste momento a consola é novidade, jogamos com esse interesse e tem funcionado muito bem).
- Eu tenho alguma experiência que me ajuda também no trabalho com ele, além de ter muito material, muitos livros, muita coisa que pode ser aproveitada em casa para um trabalho regular.
Ainda temos a vantagem de sermos persistentes. Eu não sou de desistir, de deixar para depois, sou muito frontal, também sou muito ativa na escola, portanto uso isso tudo a nosso favor. Acredito que se fosse uma pessoa tímida, com medo de ter uma voz ativa no meio escolar, pudesse ser mais complicado! Agarro o touro pelos cornos quando é necessário, embora use a delicadeza e educação para o fazer! Entendem-me?
Com todas estas estratégias e alterações, já começamos a ver melhorias no Gonçalo. Já anda mais interessado, fala mais sobre a escola e sobre o que aprendeu, já se interessa em folhear os manuais que temos em casa. Despacha-se mais rápido de manhã para ir para a escola. São pequenas coisas que vamos notando e que nos ajudam a perceber se vamos, ou não, no bom caminho.
E o caminho faz-se caminhando!
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