É o tema do momento, por enquanto. E há coisas que quero escrever aqui, porque de outra forma irei esquecer-me que aconteceram. Assim, daqui a muitos anos ainda poderei ler sobre este dia.
Ora bem. Vivo em frente a um café e mercearia. Na segunda, comuniquei com o meu vizinho sobre a falta de eletricidade, através de sms, mas não fui ao seu estabelecimento. Então não vi a confusão que lá houve.
Parece que apareceram pessoas vindas sabe-se lá de onde, para comprar leite, pão (que ele deve ter vendido congelado e tudo... kkkk) enlatados e água... acabaram com tudo. Houve pessoas a discutir por causa das mercearias. O balcão do café estava cheio de compras porque o da mercearia já não chegava.
Pronto, ele vendeu tudo e fechou, obviamente.
Pois no dia seguinte, depois do problema estar resolvido e das pessoas perceberem que não íamos ficar nem 72 horas, nem uma semana, nem 10 dias sem eletricidade nem água, Graças a Deus e aos senhores que trabalharam para isso, veio alguém para devolver a água e as latas de atum que comprou, porque afinal não precisou... pois é... ao que chegámos!
Já não há bom senso! Além de açambarcarem tudo sem dó nem piedade, depois ainda têm a lata de querer devolver. Eu aceitava a devolução e dizia à pessoa: "agora vá e não volte, sff. Ponha-se a andar." Pronto!
Depois foram as conversas dos meus explicandos.
Num dia, a Leonor e a Bianca. A Leonor não tinha dormido com medo que isto fosse causado por um meteorito, ou tivesse sido o Putin... a Bianca, muito desenrascada disse-lhe "então mas achas que se o Putin tivesse interesse em nós, tirava-nos a eletricidade e depois deixava arranjarem... era para quê? Só para pregar um susto?!".
No dia seguinte a mesma Leonor a conversar com o Rodrigo. O Rodrigo tinha achado fantástico este dia sem eletricidade, porque esteve na rua com os amigos e vizinhos, até tarde. E vai que a Leonor, que no dia anterior estava a morrer de medo, concorda: "Que dia maravilhoso!"
"Mas vocês estão parvos, ou quê? Alguém vos proíbe de estar com os amigos na rua até tarde, e deixarem os telemóveis em casa? Imaginem uma pessoa idosa, sozinha em casa, num prédio, por exemplo, sem poder contactar com ninguém, sem elevador, sem campainhas..." - foi esta a minha reação à conversa deles.
Eu não consigo romantizar este acontecimento, desculpem-me os românticos, e olhem que até sou pessoa de ver as coisas pelo lado positivo, mas este acontecimento não me mostrou nada de maravilhoso na sociedade, nem coisa nenhuma. Houve pessoas fechadas horas a fio em elevadores, houve pessoas a sairem dos metros e a caminharem pelos túneis, pessoas que não conseguiam contactar a família... e pior que isto.
Ou podemos ainda imaginar isto acontecer há dois meses, com temperaturas muito mais baixas, com o dia a terminar muito mais cedo... será que seria tão romântico? Ou vão dizer-me que as casas que só têm aquecimento elétrico resolveriam o problema do frio com as velinhas... "ah, ia ser tão romântico, nós de mantinhas e velinhas..."!!! Oh pá... não consigo ver nada de bonito nisto!
Felizmente, eu e os meus, estamos bem. Não nos aconteceu nada de grave, nenhum susto, mas consigo pôr-me no lugar de quem teve problemas sérios. Chama-se a isso empatia! E apesar de tanto romantismo, não vi muita empatia naquele dia.